Escalada de Bolsonaro desafia Lula e a lógica 02/10/2018
- BLOG DE JOSIAS DE SOUZA - UOL
Após três semanas de estabilidade, Bolsonaro subiu no Ibope de 27% para impressionantes 31% das preferências do eleitorado.
Abriu dez pontos de vantagem sobre o vice-líder Haddad, que parou momentaneamente de subir.
O desempenho do capitão desafia o prestígio de Lula e, sobretudo a lógica.
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Todos os presidenciáveis ajustam seus discursos e suas táticas. Bolsonaro não. Suas (poucas) ideias continuam inabaláveis.
Sua pregação não se alterou um milímetro, mesmo depois da facada.
Muitos já disseram que a agenda de Bolsonaro é fascista. Houve quem enxergasse nele até pendores hitlerianos.
O líder deu de ombros. Manteve-se fiel aos seus valores: o moralismo bisonho, o desprezo pelos signos democráticos, o ódio à imprensa, a segurança imposta manu militari…
Noutros tempos a ciência política classificaria Bolsonaro como um candidato inviável.
A sociedade brasileira, com seus valores escrachados e seus princípios flexíveis, revelava-se majoritariamente refratária à disciplina sanguínea do fascismo.
Na década de 90, o nome de Bolsonaro seria Enéas e seu teto nas pesquisas não ultrapassaria os 7%.
O que mudou?
Bolsonaro, até ontem um inexpressivo membro do baixo clero da Câmara, sintonizou-se com os brasileiros atropelados pela economia débil e afrontados pela roubalheira vigorosa.
Sem estrutura, a bordo de um partido de aluguel, com ridículos 8 segundos no horário eleitoral, ele se impôs perante os velhos tecelões da política artesanal.
Perdendo ou ganhando, Bolsonaro consolida-se como principal fenômeno político desde Fernando Collor.
De costas para os partidos, o mercado, a academia e a imprensa, ele capturou os principais focos de contestação social que se movem à margem da liderança populista de Lula e do sindicalismo companheiro da CUT.
Parte do tucanato e do centrãozão — versão hipertrofiada do centrão que inclui o MDB de Michel Temer — corre atrás do prejuízo, aderindo às pressas.
Bolsonaro chega à beirada da urna como um líder paradoxal.
Deputado há 27 anos, vendeu-se como um oposicionista extraparlamentar, avesso ao sistema.
Direitista convicto, conquistou as massas como uma opção “jurássica” ao clepto-distributivismo da chamada esquerda.
Assim, o fato mais inédito na política, a saber, o surgimento de um líder sem a enlameada plumagem tucana capaz de desafiar o projeto político-criminal de Lula, parece combinar-se com o desejo de um pedaço do eleitorado de restaurar uma ilusão de ordem e progresso de inspiração militar.
Repetindo: a associação do lodo que encobriu a modernidade tucana com o dinheirismo que sufocou os clichês varguistas do lulismo deram à luz Bolsonaro, uma novidade feita de resíduos verbais da década de 60.
Um pedaço do eleitorado ouve o poste de Lula falando num “Brasil feliz de novo” e chega à conclusão de que o futuro era muito mais feliz antigamente.
BLINDAGEM REVELOU-SE SUICIDA
Petistas e tucanos desenvolveram um método suicida para livrar seus cardeais de complicações criminais.
Ao protelar o andamento dos processos, enfiaram os escândalos dentro da campanha eleitoral de 2018.
Num processo contra Lula, Sergio Moro acaba de levantar o sigilo da delação-companheira de Antonio Palocci.
Vieram novamente à tona os podres de Lula num instante em que o líder-presidiário transfere eleitores para o seu poste.
Em São Paulo, dias atrás, o Ministério Público formalizara denúncias contra os presidenciáveis Fernando Haddad e Geraldo Alckmin.
Noutras praças, realizaram-se prisões ou batidas policiais de busca e apreensão contra três réus tucanos: Beto Richa, no Paraná; Reinaldo Azambuja, no Mato Grosso do Sul; e Marconi Perillo, em Goiás.
Em vez de se defender, os acusados atacam magistrados e investigadores, acusando-os de persegui-los politicamente para influir nas eleições.
Quase tudo mudou na política brasileira, menos a mania do PT e do PSDB de reagir aos escândalos acionando a tática da blidangem dos seus suspeitos.
No gogó, todos pregam o rigor e a transparência nas investigações.
Na prática, querem rigor para os adversários e transparência de vidro fumê para o eleitor.
Petistas e tucanos deveriam refletir sobre os efeitos da política de acobertamento.