O PT vai viver três dias de alta ansiedade 05/10/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
O PT vai viver três dias de alta ansiedade. Cometeu um erro de leitura da conjuntura. Perigoso. No domingo, saberemos se fatal. A que me refiro?
Para responder, começo por aquele que foi um acerto técnico: era mesmo preciso colar a figura de Fernando Haddad à de Lula para que ele tivesse a chance de ir ao segundo turno.
Da oficialização da candidatura, no dia 11, até a votação do primeiro turno, no dia 7, tem-se menos de um mês.
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Vamos admitir: para um nome que exibia desempenho de nanico antes de ser o “escolhido de Lula”, a marca atingida por Haddad é invulgar. Basta comparar com o desempenho de alguns de seus colegas, em campanha há bem mais tempo.
O PT vinha ignorando Jair Bolsonaro, candidato do PSL, e a formidável máquina de produzir memes e fake news movimentada por seus admiradores.
O erro, note-se, esteve menos em deixar Bolsonaro de lado do que em apostar que cabia ao tucano Geraldo Alckmin o papel de enfrentar o “capitão” na disputa pelos votos, para ser genérico, do terreno antipetista.
E o ex-governador de São Paulo até que se lançou, de cara, no enfrentamento das fragilidades mais óbvias de seu oponente de extrema-direita no campo da não-esquerda.
Mas aí veio aquela facada. E o evento fez de Bolsonaro, mesmo aos olhos de um público que não lhe era especialmente sensível, uma espécie de vítima reclusa que luta por sua vida e, como querem seus partidários, também pelo Brasil.
Foi preciso suspender os ataques diretos. Afinal, era arriscado fazer um confronto político com quem não tinha chances plenas de se defender.
A máquina bolsonarista não cessou um só minuto de produzir proselitismo político. Quem não viu o candidato, no leito, a engrolar palavras, expressando um sofrimento compatível com a situação, mas a fazer política?
O hospital Albert Einstein foi convertido num verdadeiro centro de produção de conteúdo da campanha.
E, no caso, contratempos físicos à parte, Bolsonaro viveu o melhor dos mundos para um político: falou o que bem quis e não foi contestado nem confrontado com ninguém.
Vale dizer: por um bom tempo, o capitão reformado não sofreu a oposição de ninguém. E ainda, como se diz, ganhou bastante mídia.
Com um tempo minúsculo no horário eleitoral gratuito, passou a ocupar o horário nobre dos telejornais com os boletins sobre sua saúde.
Há coisa de três semanas, a campanha do PSDB retomou os embates. Mas começavam a surgir as evidências de que não estavam surtindo o efeito esperado.
Afinal, Alckmin tem a mácula, para os tempos estranhos que vivemos, de ser um político. E as pessoas dizem abertamente que não têm mais paciência para isso.
Mas esperem: com 28 anos de Câmara, um filho deputado federal, outro deputado estadual e candidato ao Senado e um terceiro vereador, Bolsonaro não é um político tradicional?
Não importa! Não evidencie que um bolsonarista está errado. Aí ele não muda de ideia mesmo! E ainda manda ver: “Comunista!”
Vale dizer: o embate entre Alckmin e Bolsonaro, que era esperado pelo PT, foi bastante ineficaz para ameaçar a posição do capitão.
Alckmin seguiu estacionado, mas o candidato do PSL continuou a ascender.
As adesões destes últimos dias, sobretudo de lideranças evangélicas, deram uma clara alavancada na campanha.
O que o Datafolha traz de mais evidente é que a onda pró-Bolsonaro se move, embora não numa velocidade que permita a alguém dizer que a vitória no primeiro turno é provável.
Ainda não! Mas é possível. O PT ter visto Bolsonaro disparar sem lhe fazer oposição constituiu, sim, um erro grave.
Tal crescimento passou a acenar para a possibilidade, ainda que remota, de liquidar a fatura agora.
Mais: um desempenho muito robusto no primeiro turno já deixa um belo capital para uma eventual disputa no segundo.
Com 35% das intenções de voto — 39% dos válidos — contra 22% do petista (25% dos válidos), Bolsonaro ainda está longe de lograr tal feito.
Com rejeição alta, de 45%, teria de praticamente levar todos os votos do terreno conservador e ainda nacos de Marina e Ciro…
Se o PT passar agora por essa porta estreita, aí as perspectivas se abrem de novo porque se terá um confronto de rejeições que vai gerar certamente muito barulho.
Sim, cada um entra com a sua fragilidade. A do petismo está nas múltiplas denúncias de corrupção e no desastre do governo Dilma.
A de Bolsonaro, no óbvio e admitido despreparo intelectual para a função, razão por que ele terceiriza a economia a Paulo Guedes, nas falas desencontradas sobre planos de governo e na truculência do discurso.
O fato e que o dito “fenômeno Bolsonaro” — antes tido como uma pessoa até folclórica, embora de discurso virulento — de fenomenal, no sentido do extraordinário, do inusitado, nada tem.
Há muito tempo ele anda agitando as redes, cativando fiéis. Formou uma massa crítica de admiradores que conseguiram levar a campanha adiante na ausência do “chefe”.
Outra coisa: a fila do beija-mão de Bolsonaro já está dobrando a esquina.
É formada por aqueles “políticos tradicionais” contra os quais sua campanha fala de modo entusiasmado.
Claro, eu sei: os militantes da causa dirão que o chefe está sempre certo e ponto final. Mas só a militância não ganha a eleição.
Há quem realmente acredite que é possível governar sem o apoio do Congresso e daquelas caras de sempre. E estas já buscam seu lugar ao sol.
Se houver um segundo turno, talvez Bolsonaro de pareça menos com um “outsider”.