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De Última! Só lendo para acreditar

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O país do cabeça para baixo
12/10/2018 - MENTOR NETO - ISTOÉ

Era uma vez, numa terra muito distante, o País do Cabeça Para Baixo.

Lá, tudo é ao contrário.

A água, ao invés de descer, sobe pelas cachoeiras.


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As árvores crescem de ponta cabeça com as raízes para cima a as copas enterradas no chão.

Os carros andam de ré.

A chuva brota do chão e cai para cima.

As conversas começam com “adeus” e terminam em “oi”.

Nesse país, tudo é o oposto do que a gente imagina.

O que é feio é bonito e o que é bonito é feio.

O que é velho é novo e o que é novo é velho.

Quando você mora no País do Cabeça Para Baixo, compreende que a vida pode ser muito mais fácil.

Por exemplo, as leis são feitas para serem ignoradas então você pode fazer o que bem entender.

Os regulamentos, as regras, existem para serem burlados e sempre tem um jeitinho ou alguém que, por um trocado, resolve seu problema.

Quem mora no País do Cabeça Para Baixo aprende desde criança que estudar não é muito importante, porque não têm escolas para todo mundo.

Nem esgoto, nem hospitais, nem segurança.

Mas tudo bem, porque no País do Cabeça Para Baixo fartura é faltar.

E mais:

No País do Cabeça Para Baixo pensar no coletivo é investir no ego.

Roubar não é grave.

Principalmente se for político.

Se alguém disser alguma coisa, respondem que tudo é feito pelo bem do povo.

E o povo acredita.

No País do Cabeça Para Baixo, as pessoas acreditam em tudo.

Em promessas, em boatos e até em mentiras deslavadas.

E as verdades, aquelas óbvias e inquestionáveis, todos acham que são mentiras.

Como é tudo ao contrário do que a gente imagina, quanto mais o tempo passa, menos aprendem sobre a vida, sobre as pessoas e sobre o mundo.

Esse ano estão acontecendo eleições no País do Cabeça Para Baixo.

Eleições são um período onde o País do Cabeça Para Baixo fica especialmente diferente de tudo que já se viu.

Só o Carnaval deles é mais estranho que isso, com todo mundo andando pelado pelas ruas.

As eleições, contando ninguém acredita.

Os dois candidatos que disputam a presidência, por exemplo, são os que mostram bem como pensa quem vive no País do Cabeça Para Baixo.

O primeiro candidato nem é um candidato de verdade.

Está mais para um porta-voz, um candidato de mentira.

É que como o candidato para valer está preso, esse outro ocupa seu lugar.

Isso mesmo que você ouviu: preso.

O tal candidato de verdade foi preso por corrupção, mas, mesmo preso, continua mandando e desmandando no que o candidato de mentira pode falar.

Assim, antes de se pronunciar, o candidato de mentira tem de passar na cadeia para saber o que pode e o que não pode dizer.

Porque no País do Cabeça Para Baixo, preso é solto e solto é preso.

Eu sei, eu sei.

Difícil de acreditar, não é?

Você pode achar estranho, mas é só porque você não vive nesse país.

Muito mais estranho é que quando a bola entra no gol, é escanteio.

Quando vai fora, é gol.

Vai entender.

E tem o outro candidato.

Esse é um sujeito que diz que é “a favor da tortura”, que “tem de fechar o Congresso”, que abertamente se posiciona contra gays, índios, negros, e por aí vai.

Um monte de gente vibra com isso, porque no País do Cabeça Para Baixo o que é bom é ruim e o que é ruim é bom.

Os dois principais candidatos estão empatados nas pesquisas.

Um dos dois vai ganhar e a vida vai seguir seu curso.

Porque o correto, no País do Cabeça Para Baixo, é não ligar para nada.

Em alguns meses, ninguém lembra nem em quem votou, porque no País do Cabeça Para Baixo quem sofre de amnésia é quem lembra de tudo.

E olha, até hoje sempre deu certo.

Que para nós, na verdade, é errado.


  

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