PT, sem Lula e sem o vermelho 12/10/2018
- PEDRO LUIZ RODRIGUES - DIÁRIO DO PODER
Tenho recebido pela mídia social material – enviado por simpatizantes ou prestadores de serviços do Partido dos Trabalhadores, no qual se busca associar a imagem do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez ao candidato Jair Bolsonaro, como se o fato de ambos terem pertencido às Forças Armadas os tornassem parte de alguma malévola irmandade.
Depois que deixaram de contar com a colaboração do João Santana – e sem ter a Odebrecht para dar uma ajudazinha financeira-, a comunicação do PT parece desorientada.
Seus novos marqueteiros talvez não se tenham dado cona de que estão fazendo um dano enorme ao partido com as modificações que fizeram na campanha do candidato Haddad, para o segundo turno.
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Estão simplesmente desconstruindo a marca consolidada do PT, desprezando suas imagens e símbolos históricos.
O exemplo mais cabal dessa desconstrução foi o banimento do vermelho, a cor de nascença do PT, nas peças de propaganda eleitoral de segundo turno. Foi substituído pelo verde-e-amarelo, as cores nacionais que o eleitorado há já muito associou à candidatura de Bolsonaro que, a meu ver, é quem se beneficia com a mudança.
O vermelho é cor da paixão, e sempre foi sempre a cor do aguerridos.
Nas guerras navais da Idade Média, a fita rubra presa ao mastro (o “beaucan”) significava a guerra até o final, até a morte do último inimigo.
No século 19 foi a cor preferida dos anarquistas, que a abandonaram depois que partidos comunistas dela se apropriaram, depois da revolução russa de Outubro de 1917.
O PT a abandona agora, pela razão muito mais modesta de ter tirado o segundo lugar no primeiro turno das eleições de 2018.
Outra mudança que provocou impacto foi a supressão pura e simples de Lula das fotos de campanha de segundo turno de Haddad e de sua companheira de chapa Manuela d’Ávila (Partido Comunista do Brasil).
Não posso acreditar que o PT esteja assim tão envergonhado de seu líder máximo, do grande angariador de votos para o partido, a ponto de tratá-lo como se fosse uma mera Dilma Rousseff, uma reconhecida perdedora de votos e junto a quem nenhum petista gosta de tirar fotos.
Sair do vermelho e suprimir Lula das fotos são iniciativas que em nada vão ajudar Haddad, pois simplesmente a imagem de que trata-se o candidato de ente subordinado ao ex-presidente já se consolidou, como resultado de decisao explícita do próprio partido.
Simplesmente não há tempo para se construir a imagem de um Haddad, o Autômo ou um Super-Haddad.
Lula já está preso, cumprindo sua pena, e não precisava ter recebido esse tabefe de seus próprios parceiros.
Igualmente, ao considerarem negativa a imagem do pai de neobolivarianismo – razão pela qual buscaram compará-lo de alguma maneira ao adversário Bolsonaro -, os marqueteiros petistas solapam os princípios e a história do próprio partido e, mais uma vez, agridem Lula.
Afinal ele e Chávez não só eram grande amigos, como foram líderes conjuntos do grande movimento reformador, de natureza populista, que por um tempo chegou a sonhar em transformar a América do Sul numa grande Cuba
Ao demonizar a imagem de Chávez, o PT dá ao adversário um argumento válido de crítica para usar nos debates: foi então o líder boliviariano, cujo regime Lula entupiu de dinheiro e prestígio, uma figura abominável, negativa e ditatorial (Chávez, no anúncio em questão, é apresentado de uniforme militar)?
Se assim o reconhece o PT, por que tanto cuidou de paparicar o venezuelano?
Todas essas mudanças não têm passado despercebidas ao eleitorado, que muitas vezes duvida de se tratar de propaganda do partido, acreditando tratar-se de “fake news”.
Infelizmente para o PT, isso tudo é verdadeiro, tais trapalhadas mais parecem resultado de afobação, alguma incompetência e pitadas de desespero.