Bolsonaro e os debates 19/10/2018
- PERCIVAL PUGGINA*
Haddad está atrapalhadíssimo. Os marqueteiros do partido fizeram desabar sobre Bolsonaro três adjetivos que deveriam condená-lo à morte política por inanição de votos. Verdadeiro corte da fonte de suprimentos.
Nos últimos meses, multidão de militantes, comunicadores, professores, intelectuais foi orientada a etiquetá-lo como machista, racista e homofóbico.
A previsão era de que isso o fizesse definhar mais do que facada no ventre e sopa de canudinho no hospital.
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Pois apesar da carga cerrada, a mais recente pesquisa do Ibope mostrou que o candidato do PSL o supera em votos entre as mulheres (46% a 40%), entre os negros (47% a 41%) e provavelmente também entre os gays, mas isso não dá para saber. É informação difícil de buscar.
Haddad, então, não conhece seu adversário nem seus eleitores e já não sabe quem é.
Por tanto tempo foi ventríloquo de Lula presidiário que quis continuar a usar a máscara com a face do chefe mesmo depois de ungido candidato a presidente.
Aceitou ser chamado de “Poste” e – é claro – passou a ser tratado como tal.
Haddad topava todas as postergações e humilhações porque ali adiante havia uma porta da felicidade que franqueava para os palácios presidenciais de Brasília.
E tudo vale a pena, também quando a alma é pequena.
Ademais, as pesquisas, enganosas como são, vinham dando ao petismo a impressão de que o páreo estava corrido. Elas atribuíam a Bolsonaro um índice de rejeição incompatível com vitória eleitoral.
Num segundo turno perderia para todos, incluído ele, Haddad.
Bastava levar o adversário a um novo round e o PT voltaria às delícias do sítio de Atibaia da Praça dos Três Poderes.
O eleitor brasileiro, no entanto, “problematizou” a situação e “desconstruiu” essa narrativa, como diria um petista treinado nos ardis da novilíngua.
O PT ficou reduzido a um único grande eleitor, o Lula.
Nestes últimos dias, então, o atrapalhado Haddad descalçou o Lula; suprimiu a estrela, o PT e o PCdoB; fez desaparecer o vermelho. Adotou as cores da bandeira e ficou com jeito de “coxinha”.
E quer porque quer debater com Bolsonaro.
Valem, aqui, dois conselhos quase seculares: Não se atrapalha adversário que está errando e não se ajuda adversário que está atrapalhado.
Para que conceder ao adversário algo que ele tanto quer?
Num debate, Haddad usará as piores estratégias. Estatísticas e calendários, desempenhos de gestão e atos de corrupção irão para o moedor das conveniências e das versões.
Não vem o PT repetindo que sua gestão foi um paraíso de bem estar e prosperidade?
Não alega que foi Temer quem arrastou o Brasil para o precipício?
Oportunizar esse tipo de discurso?
É muito difícil debater quando a honestidade intelectual fica fora do recinto.
Só para lembrar: em 1989, no primeiro turno, Collor faltou a todos os debates e no segundo foi a apenas dois; FHC, que venceu dois pleitos no primeiro turno, compareceu a apenas um evento em 1994 e em 1998 sequer houve debates; Lula não compareceu a nenhum debate no primeiro turno de 2006.
Comparecer ou não é juízo de conveniência.
A campanha eleitoral vai terminar sem que o PT entenda que está perdendo esta eleição para o antipetismo em todos os segmentos da vida nacional.
O petismo vive uma situação como a do samba de Vinícius e Toquinho em que o sujeito tantas fez que agora tanto faz.
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*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.