Horário eleitoral é filme de James Bond sem 007 21/10/2018
- BLOG DE JOSIAS DE SOUZA - UOL
Perde seu tempo quem procura um projeto de governo no horário político da televisão.
Em 2014, estava em cartaz a ficção hollywoodiana da chapa Dilma-Temer, patrocinada pelo departamento de propinas da Odebrecht.
Na atual temporada, Bolsonaro e Haddad levam ao ar uma espécie de filme de James Bond 100% feito de bandidos — sem um 007 para deter a guerra tecnológica que se alastrou para a trincheira do WhatsApp.
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Os planos tenebrosos de Bolsonaro são expostos nos filmetes do PT. Assistindo-os, o brasileiro descobre, por exemplo, que será sugado por uma máquina do tempo.
Ela o arrastará para um imenso complexo subterrâneo, situado em algum porão da década de 1970.
Ali, hordas de esquerdistas formarão filas defronte de salas de tortura.
Dentro delas, monstros com a cara do Brilhante Ustra conduzirão sessões ininterruptas de pancadaria e choques elétricos.
As intenções diabólicas que se escondem atrás de Haddad são denunciadas na propaganda do capitão.
As peças revelam a existência de uma sala especial secreta sob os alicerces da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
À frente de um painel eletrônico, Osama bin Lula manipula Haddad por controle remoto.
Simultaneamente, o gênio petista do mal reativa o Foro de São Paulo e prepara a conversão do Brasil numa espécie de "Cuzuela", mistura da ditadura de Cuba com o caos autocrático da Venezuela.
Num filme convencional de James Bond, algum solitário 007 irromperia em cena para salvar a humanidade.
Com uma pistola implantada num isqueiro, o agente secreto eliminaria os supervilões antes que eles apertassem os botões que farão do Brasil um centro de torturas hipertrofiado ou uma clepto-ditadura.
Como 2018 virou um filme sem mocinhos, o medo ganhou novas formas e plataformas.
Em 2014, a marquetagem de João Santana intercalou na televisão notícias falsas sobre rivais e um desfile apoteótico de plantações exuberantes, obras públicas tocadas em ritmo febril, fábricas operando a todo o vapor e povo usufruindo de prosperidade inaudita.
Deu em estelionato eleitoral, recessão, desemprego e Michel Temer.
O Tribunal Superior Eleitoral fechou os olhos para a lama.
Agora, novamente sob a complacência do TSE, o lodo transborda da TV para o telefone celular. Vem da esquerda e da direita.
Na quantidade, a milícia cibernética pró-capitão, anabolizada por um caixa dois empresarial, prevalece sobre a guerrilha companheira.
Petistas gritam: “Pega ladrão!”. Bolsonaristas respondem: “Olha quem fala!”
E a Polícia Federal, acionada pela Procuradoria, investiga os dois lados.
Podendo fornecer informação, a propaganda política levou ao eleitor mistificação e medo.
Desinformado e angustiado, esse eleitor irá às urnas em uma semana.
A maioria votará não no candidato preferido, mas no mal menor.
O Brasil não reativará o pau de arara. Tampouco virará uma "Cuzuela". Mas o centro tecnológico de produção de maldades continuará ativo.
Restará suportar as consequências do voto e torcer para que a democracia providencie um James Bond em quatro anos.
Gente como o cronista Rubem Braga, do tempo em que as geladeiras eram brancas e os telefones pretos, talvez passe a conferir as mensagens que chegam pelo celular com um sentimento de hedionda nostalgia.