A ameaça das true news 28/10/2018
- MENTOR NETO - ISTOÉ
Dizem que o ex-estrategista da campanha de Donald Trump, Steve Bannon, teria servido como conselheiro de um dos candidatos nessa eleição.
Bannon é um dos responsáveis pelo escândalo da Cambridge Analytica e das Fake News pelo mundo. Não há provas de ele ter atuado no Brasil.
Mas fiquei curioso imaginando como poderia ser uma reunião entre Bannon e Bolsonaro ou Haddad. A do Haddad, imagino, foi numa churrascaria.
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Bannon e Haddad, com os seus respectivos assessores, passaram a primeira hora discutindo irrelevâncias para quebrar o gelo e finalmente tratar do que importa:
– Pois bem, como posso ajuda-lo candidato? — pergunta Bannon.
– Bom Steve…sabe como é, né? O Bolsonaro taí, na frente das pesquisas. Um risco enorme pra democracia! Precisamos dar um jeito de desestabiliza-lo. — Haddad sugere sem se comprometer.
Bannon coça o queixo com ar profissional para valorizar o passe.
– Me fale mais sobre esse…como é mesmo o nome? Bolsonuero?
– Bolsonaro… bom… é um deputado que em 27 anos no Congresso apresentou apenas dois projetos. Já deu declarações homofóbicas, racistas, machistas e…
Bannon olha para seus assessores entre surpreso e desconfiado.
Haddad continua:
– …certa vez disse que fecharia o Congresso se fosse eleito. Outra que é a favor da tortura e uma vez disse que preferia um filho morto a um filho gay.
Bannon sorriu amarelo, sem saber se Haddad estava falando sério.
Depois de alguns segundos meditando, Bannon pergunta:
– Mas esse Bolsonuero disse tudo isso e ainda assim lidera as pesquisas?
Haddad responde afirmativamente com a cabeça, quase envergonhado.
Bannon olha perplexo para o candidato petista.
Chega a picanha e o jantar transcorre em silêncio.
Depois do café, Bannon se despede e informa que vai pensar no assunto.
Na verdade, quer apenas ganhar tempo para a reunião com Bolsonaro, no dia seguinte, no clube militar.
Bolsonaro passa uma hora e meia elogiando Donald Trump até entrar no assunto.
– Bom seu Breno, nós precisamos acabar com essa petralhada toda, custe o que custar. Eu por, mim, fuzilava todos num paredão. Mas aí me falaram que o senhor pode espalhar uns boatos aí, é isso?
Bannon, desconfiado, pergunta:
– O senhor poderia me falar mais sobre os principais pontos fracos do seu oponente? — pergunta Bannon.
– Ah é coisa pra diabo. Primeiro que são tudo comunista, né? Depois que o sujeito nem é o candidato de verdade. Quem manda mesmo é o Lula, que está preso por corrupção. Alias o PT é responsável pelo maior esquema de corrupção da história do mundo, o senhor sabe, né?
Bannon não sabia.
Sua reação é a mesma que na reunião com Haddad.
Um misto de descrédito e terror.
Dias depois, num hotel de São Paulo, Bannon e seus assessores se reúnem para decidir com qual candidato devem fechar contrato.
A equipe está dividida.
Metade acha que o ideal é fechar com Haddad.
A outra metade acha que o negócio é Bolsonaro.
Bannon, experiente, deixa sua equipe debater.
Horas depois, Bannon pede a palavra.
– Senhores, por favor.
Todos suspendem a discussão para escutar o chefe.
– Nós vivemos do que?
– De espalhar notícias falsas — responde um assessor, orgulhoso.
– Exatamente. Então eu pergunto: os senhores realmente acreditam que seríamos capazes de inventar alguma notícia falsa mais absurda, bizarra, sem noção do que as notícias reais desse País?
Silêncio geral.
Bannon olha para cada assessor e dá seu veredito:
– As True News do Brasil são muito mais terríveis que as Fake News, meus filhos. Isso aqui não é para nós, não. — e conclui para a alegria de todos — Partiu Feijoada?