PT resolve dar um presente a Bolsonaro 31/10/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Nem que tivesse feito uma encomenda pessoal a seu gosto, Jair Bolsonaro, presidente eleito, teria sido contemplado com um presente como o oferecido pelo PT.
Segundo informa a Folha, a legenda dará início já neste ano a uma nova campanha internacional pela libertação do ex-presidente Lula.
Todos sabem o que penso sobre a incompatibilidade da prisão depois da condenação em segunda instância com o que diz a Constituição, mas isso ainda é matéria que vai ser decidida pelo Supremo — e o ex-presidente é apenas um preso entre outros.
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No caso do apartamento de Guarujá, ainda haverá o julgamento de Recurso Especial no STJ e de Recurso Extraordinário no STF.
Ora, uma das peças de resistência da campanha bolsonarista foi justamente a acusação de que, se eleito, Fernando Haddad daria o indulto a Lula, o que, de resto, a lei não permitiria.
Qual a justificativa para a criação do movimento?
Lula estaria correndo risco de vida depois que Bolsonaro afirmou que, por ele, o petista apodrecerá na cadeia.
Convenham: a frase pode não ser um exemplo de felicidade, mas não tem valor jurídico nenhum nem pode ser vista como uma ameaça.
No máximo, Bolsonaro está afirmando que não se mobilizaria em favor do ex-presidente.
Alguém esperaria o contrário?
Depois de afirmar que o partido pedirá proteção especial a Lula, afirmou Gleisi Hoffmann, presidente do PT:
“Tememos pela vida do presidente. Precisamos deixar um alerta à sociedade. Lula tem direto a um julgamento justo. Não tem ninguém que possa definir o que fazer com ele sem antes seu processo ser julgado de forma justa”.
Sim, isso está dado. Mas o julgamento justo não implica a soltura imediata do petista — não sem antes o Supremo julgar a Ação Direta de Constitucionalidade, que trata justamente da legalidade ou não da prisão depois da condenação em segunda instância.
O PT conseguiu perto de um terço dos votos válidos no primeiro turno. É o tamanho do eleitorado que lhe restou.
Ainda assim, grande o bastante para fazer, por enquanto, a maior bancada da Câmara, com 57 deputados.
No segundo turno, chegou a 45% dos votos válidos. Aí já se juntaram os eleitores contra Bolsonaro, ainda que não petistas.
Entregar-se à agenda “solta-Lula” agora, quando o presidente eleito ainda dá seus primeiros passos, pode concorrer para aumentar a sua popularidade, não o contrário.
Ora, a agenda de Bolsonaro começa a sair do “bunker” e a ganhar publicidade.
O bom senso indica que deveria ser ela a mobilizar o PT e os petistas, deixando o caso do ex-presidente para a Justiça.
Trata-se de um erro notável de leitura da realidade.
Sim, a votação do PT foi expressiva no segundo turno.
Mas terá sido com esse propósito principal?
O PT quer ainda a instalação do que chama de um “observatório internacional” para a proteção de indígenas, negros, militantes de esquerda, jornalistas etc.
Que o faça.
Algumas notícias que surgem aqui e ali sobre manifestações explícitas de intolerância de pessoas que se dizem afinadas com o presidente eleito justificam alguns cuidados, desde que não se confunda a simples expressão de apoio a Bolsonaro com uma ameaça.
O que quer que venha para proteger pessoas não tem como merecer censura.
Mesmo nesse caso, no entanto, questiono: será essa a prioridade?
Não cumpriria fazer o que fazem as oposições mundo afora, a saber: vigiar o governo que se instala e avaliar se suas medidas estão ou não de acordo com as necessidades do país, segundo as entende uma força de oposição?
A mim me parece que os petistas estão, mais uma vez, cometendo o pecado da excessiva ideologização, que é um território em que o bolsonarismo nada muito bem, mas em sentido contrário.
Se Fernand Haddad quer mesmo ser o líder da oposição ao governo Bolsonaro, não parece ser esse o caminho.
Essas coisas mais endossam do que contestam a metafísica da nova ordem.