Após premiar o STF, Congresso debate congelamento salarial do funcionalismo 13/11/2018
- BLOG DE JOSIAS DE SOUZA - UOL
Uma semana depois de o Senado ter retirado do freezer o projeto que elevou em 16,39% os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal e da procuradora-geral da República, uma comissão especial de deputados e senadores se reúne nesta terça-feira (13) para discutir o congelamento de reajustes que seriam pagos a diversas categorias do funcionalismo público a partir de janeiro de 2019.
O resfriamento do contracheque dos servidores consta de medida provisória enviada ao Congresso por Michel Temer.
Antes de chegar aos plenários da Câmara e do Senado, a proposta tem que passar pelo crivo de uma comissão mista. O colegiado reuniu-se na quarta-feira da semana passada — mesmo dia em que os senadores enviaram o aumento do Supremo e da Procuradoria para a sanção de Temer.
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Sem clima, os membros da comissão adiaram para esta terça-feira a eleição de um presidente e de um vice-presidente, além da escolha de um relator para a medida provisória.
O governo alega que os aumentos precisam ser adiados para 2020 em nome do equilíbrio das contas públicas.
Até a semana passada, o argumento parecia lógico. Perdeu o nexo depois da exceção aberta para o STF.
O congelamento previsto na medida provisória de Temer afeta 372 mil pessoas, entre servidores ativos (209 mil) e aposentados (163 mil).
Se for aprovado, evitará gastos de R$ 4,7 bilhões no próximo ano.
O aumento dos salários do STF, que descerá em cascata por toda a administração pública, deve custar entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões por ano.
Entre as corporações que seriam afetadas pelo congelamento estão servidores da elite do funcionalismo, lotados na Polícia Federal, Receita Federal, Banco Central e Itamaraty. Há também na lista médicos e professores.
Ironicamente, os reajustes foram aprovados sob Michel Temer. Alegou-se que já haviam sido negociados pelo governo de Dilma Rousseff, antes do impeachment.
Para restaurar a lógica, Temer precisaria vetar o aumento que elevou os salários da cúpula do Supremo e da Procuradoria de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil por mês.
Mas é improvável que um presidente em fim de mandato, com duas denúncias por corrupção e dois inquéritos criminais sobre os ombros, se anime a desafiar os interesses monetários da nova CUT, Central Única das Togas.
Onyx ataca quem ajuda a preservar a Amazônia
Ministro extraordinário da transição e futuro chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro, Onyx Lorenzoni abespinhou-se com perguntas de jornalistas sobre meio ambiente.
De repente, a pretexto de criticar ONGs estrangeiras que recebem parte das multas aplicadas pelo Ibama, o ministro atacou a Noruega.
Deu de ombros para o fato de que o país é o principal financiador do Fundo Amazônia, o maior projeto de cooperação internacional para preservar a floresta amazônica.
“A floresta norueguesa, quanto eles preservaram?”, indagou Onyx aos repórteres a certa altura.
“O Brasil preservou a Europa inteira, territorialmente, com as nossas matas, mais cinco Noruegas. Os noruegueses têm que aprender com os brasileiros, não a gente aprender com eles”, disse Onyx, antes de dar a entrevista por encerrada.
Nos seus dez anos de existência, o Fundo Amazônia recebeu R$ 3,1 bilhões. A Noruega bancou 93,3% desse total. O resto do dinheiro veio da Alemanha (6,2%) e da Petrobras (0,5%).
Diferentemente do que insinuam Bolsonaro e seus auxiliares, não há neste caso risco à soberania nacional. O fundo é gerido pelo BNDES.
Na semana passada, Bolsonaro dissera que 40% da receita obtida com multas ambientais aplicadas no Brasil vão para ONGs estrangeiras e brasileiras.
Nesta terça-feira, disse Onyx, o presidente eleito receberá um estudo sobre o tema.
“A gente está muito preocupado com isso. (…) A média de conservação (das matas) de países que têm território semelhante ao nosso é de 10%. O Brasil tem 31% de preservação de suas matas. É três vezes mais…”
Um repórter interveio para perguntar se o Brasil reduziria o percentual de conservação de suas matas para 10%. E Onyx, elevando o timbre:
“Claro que não… Seria irresponsabilidade escrever isso ou falar isso. Nós vamos preservar o Brasil, mas com altivez. Não dá pra vir a ONG da Noruega ou da Holanda vir aqui dizer o que a gente tem que fazer fazer, porque lá dá três palmos da linha da água, e eu vi, eles plantam tudo.”
Outro repórter recordou ao ministro que a Noruega socorreu o Ibama. Onyx irritou-se ainda mais.
“E a legislação brasileira não vale nada? O que nós fizemos não vale nada? O que vale é a Noruega?”
Foi nesse ponto que o ministro da transição engatou os ataques aos noruegueses, culminando com a declaração de que o Brasil tem muito a ensinar em matéria de preservação.
O dinheiro, como se sabe, não traz felicidade. Mas um governo quebrado como o brasileiro nem sempre tem liberdade para falar isso.
Nos últimos três anos, o fundo custeado com verbas da Noruega tapou buracos abertos pelos cortes orçamentários impostos ao Ibama.
O Fundo Amazônia pagou até a aquisição de carros e o aluguel de helicópteros para que os fiscais do órgão pudessem trabalhar.
Bolsonaro e sua equipe ainda da não se deram conta, mas o excesso de verborragia sobre meio ambiente pode custar a verba da Noruega e de outras fontes. O dinheiro, como se sabe, não costuma aceitar ofensas.
Até o agronegócio brasileiro já aprendeu que o descuido com o desmatamento custa caro. Grandes bancos internacionais e multilaterais recusam-se a financiar produtores que degradam o ambiente.
Levy no BNDES injeta ironia na gestão Bolsonaro
A escolha de Joaquim Levy para ocupar a presidência do poderoso BNDES é o cúmulo da ironia.
Ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff, Levy pediu demissão porque foi impedido de colocar em pé uma política de austeridade fiscal.
Com sua saída, acentuaram-se os problemas que, junto com a corrupção, fizeram ferver o caldeirão do impeachment: gastos públicos desmedidos, negligência com o controle da inflação e malabarismos contábeis.
Apoiadores de Bolsonaro torceram o nariz para a escolha de Joaquim Levy. Alegaram que não faria sentido convidar um ex-ministro de Dilma para integrar o governo do capitão.
Tolice. Pode-se detestar Levy. Mas é preciso encontrar outra razão. Sob Dilma, o personagem foi um ministro ornamental, figurativo. Sua principal serventia era a de saco de pancadas do Planalto e do PT.
Levy volta à cena como frentista do Posto Ipiranga Paulo Guedes no BNDES, sob a presidência de Jair Bolsonaro.
Logo Bolsonaro, personagem que foi catapultado do baixo clero da Câmara para o Planalto pela maior força política da temporada eleitoral de 2018: o antipetismo.
A ironia só não será completa porque o eleitor de Minas Gerais sonegou um mandato de senadora para Dilma Rousseff.
Seria divertido assistir à ex-presidente inquirindo numa comissão qualquer do Congresso o novo comandante do BNDES, o ex-auxiliar que ela não permitiu que retirasse seu governo do atoleiro fiscal.