A ESCOLA DE BOLSONARO 26/11/2018
- BLOG DE REINALDO AZEVEDO
Se eu fosse de esquerda, estaria torcendo para que essa patetada chamada “Escola Sem Partido” fosse aprovada pelo Congresso e mantida intocada pelo Supremo Tribunal Federal.
Não vejo como essa segunda coisa possa acontecer. Não há como preservar a vergonha na cara e na toga sem apontar a óbvia inconstitucionalidade naquela estrovenga legislativa — que, não obstante, seduz parte considerável da militância bolsonarista e outros setores que se dizem liberais.
Liberais a defender uma forma de censura em sala de aula é coisa que talvez só floresça no Brasil, como não acontece com a jabuticaba.
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Em sua página na Internet, o sempre percuciente Alon Feuerwerker, jornalistas e analista político, foi ao ponto ao escrever:
“O PT passou década e meia no governo falando no ‘controle social da mídia’, e colheu só desgaste. Não conseguiu implantar qualquer tipo de controle, mas deu gás às teses de que o objetivo último do partido é acabar com a liberdade de imprensa, como praticada em países como o nosso. Não foi só por isso, claro, mas também por isso deu no que deu. O ‘escola sem partido’ ensaia ser para o bolsonarismo um ponto focal de organização política e intelectual dos adversários, que agora terão a vantagem de desfraldar a bandeira da liberdade. Uma vantagem e tanto. Outra notícia boa para a oposição: ao contrário do PT e seu ‘controle social da mídia’, talvez haja votos para passar a coisa no Congresso Nacional.”
A propósito dessa observação, não custa notar que Olavo de Carvalho, polemista e prosélito de extrema-direita, não se mostra um entusiasta do projeto.
Mesmo os que não admiram a sua militância têm de reconhecer que é bastante esperto.
A aprovação agora de tal texto só serviria para elevar a temperatura dos confrontos nas escolas.
Carvalho, que já deu endosso pessoal a dois ministros nomeados — Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Ricardo Vélez Rodrigues, da Educação — prefere o trabalho do proselitismo e da formação de massa crítica contra as esquerdas; melhor se for pautado por seus escritos, mas isso é o de menos.
O que faz sentido segundo seu ponto de vista é um trabalho de longo prazo, sem atalhos legislativos e sem meter o Judiciário na parada.
A potencial celeuma em sala de aula vai é selar o caráter intolerante do Escola Sem Partido e do próprio bolsonarismo.
A ineficiência é garantida. E, por óbvio, fornece uma pauta para a mobilização do adversário.
Some-se a esse clima uma realidade que junta os baixos salários já exististes com um provável período de arrocho, e a gente já sabe qual é o resultado.
Em certa medida, note-se, para a reorganização das esquerdas, é preferível que a pauta puramente ideológica da extrema-direita ascendente avance. Até porque não há a menor possibilidade de que seja eficiente.
Que efeito terá nos números da segurança pública a eventual aprovação de mudanças no Estatuto do Desarmamento ou da maioridade penal aos 16 ou 17 anos?
Na suposição de que tudo passe pelo Supremo, o que não é certo, a resposta é esta: nenhum!
E aqueles que fizerem oposição a Bolsonaro colherão, vamos ver em que prazo, os frutos do insucesso de tais escolhas.
E as razões são escandalosamente simples: a educação no Brasil é uma lástima, e a importância da ideologização do ensino aqui e ali é não mais do que marginal.
Não se conhece um só estudioso de peso da educação, não importa o matiz ideológico, que leve isso a sério.
Que importância tem o veto à posse de armas no país de mais de 63 mil homicídios por ano?
Se Sérgio Moro não conseguir reverter essa curva por intermédio de outras políticas, uma população ainda mais armada do que hoje resultará numa elevação do número de episódios trágicos.
Curiosamente, a única chance de esses temas continuarem a alimentar as hostes bolsonaristas está na sua eventual rejeição.
As esquerdas certamente votarão contra, mas talvez devessem torcer para que fossem aprovados.
Não há risco de haver respostas certas quanto as questões, como resta óbvio, estão erradas. E elas estão.
E os liberais?
Bem, já que esquerdistas não são e reacionários não podem ser, ficam a lamentar o novo Febeapá: O Festival de Besteiras que Assola o País.