Educação: retroceder para avançar 26/11/2018
- NELSON VALENTE*
O drama do analfabetismo. No mundo inteiro, o Brasil ocupa uma das posições mais negativas em matéria de analfabetismo.
Ninguém vê o óbvio: a pirâmide está invertida. A maior prova disso é o abandono da primeira infância. É nela que o Brasil começa, e seu abandono é a maior das ameaças à pirâmide invertida que caracteriza nosso País.
Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis. Criar o hábito (ou gosto) pela leitura é um primeiro passo que depende basicamente de pais e professores.
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Os pais devem considerar o livro como um instrumento com que a criança tenha um relacionamento íntimo, no qual vai aprender lições que ajudarão muito na sua formação posterior.
Há uma idade para isso, que infelizmente para os calouros não coincide com os seus 17 ou 18 anos.
Começa antes, na altura ainda do ensino fundamental.
Depois, é só alimentar a cabeça de bons produtos, a fim de que persista o interesse.
O bom professor, que estimula o gosto de ler, promove a leitura acompanhada, dialogada, comentada, leitura a dois etc., para identificar com os alunos a existência de uma obra de arte literária.
Quando ocorre a descoberta, não há dúvida, estamos diante do intrincado e maravilhoso mundo da literatura.
O pré-escolar é o grande momento onde deve haver um estímulo à leitura.
Essa relação deve ser bem natural, e de forma lúdica, tanto em casa quanto na escola.
Mas temos uma grande preocupação com o que a criança realmente deseja.
Afinal, o que ela pensa sobre os títulos que estão à sua disposição?
Sendo ela a maior interessada, é justo que se faça um levantamento nacional sobre as aspirações do nosso público infanto-juvenil, isso evitaria o pseudodidatismo que pode ser detectado em muitas obras.
O que fazer para os estudantes leiam mais?
A resposta não é tão simples.
Os professores podem, discretamente, variar a oferta literária, entendendo que literatura não é língua somente.
A leitura da obra literária, luxuosa ou não, é o ponto de partida ou regra de ouro do ensino de letras, que lidará com gêneros ou tipos conhecidos desde Aristóteles.
Assim são criados os fundamentos literários para trabalhar o lirismo, a narrativa (conto, romance, epopeia etc.) e outros tipos, como as memórias, o diário, a máxima, identificar o gênero é um primeiro e fundamental exercício, a que se deve somar o exame da estrutura da narrativa: enredo, personagem, tempo, ordem de relato, suspense, apresentação e desfecho.
Morreu, neste início de século e de milênio, a educadora Branca Alves de Lima, aos 90 anos, deixando órfãos aqueles que acreditam que a alfabetização com cartilhas não só funciona muito bem como é mais simples do que essa “moda” atual do construtivismo.
A vida de Branca Alves de Lima, autora da cartilha "Caminho Suave", é a síntese de um dos principais males – se não do principal mal – da Educação brasileira: o enorme desrespeito dos gestores e das políticas públicas educacionais em relação aos professores e professoras, aos estudantes e suas famílias.
O sucesso da cartilha "Caminho Suave". "Eles" (o governo, o MEC e o Guia do Livro Didático, o Conselho Nacional de Educação, as secretarias de Educação etc.) estão projetando, quase decretando, que os alunos não usem mais cartilhas.
Veja hoje o caso dos ciclos.
Professores e professoras que há décadas têm na reprovação seu principal recurso de disciplina foram, de uma hora para outra, proibidos de usá-la.
Mesmo com a proibição e à margem do Currículo Escolar, avós, pais, parentes, amigos e professores, indicam a cartilha "Caminho Suave", na alfabetização de seus entes queridos.
Branca Alves de Lima concebeu a cartilha, em meados do século passado.
Mais de 48 milhões dos brasileiros adultos de hoje foram alfabetizados por ela.
Esta é a modesta e sincera homenagem que posso agora prestar como tributo de gratidão, a memória daquela que, sob moldes humaníssimos e quase maternos, abriu-me a réstea de luz da alfabetização da cartilha “Caminho Suave” de nossa educadora paulista, Branca Alves de Lima.
Nos últimos tempos, surgiu uma estranha doença entre nossos jovens: DE (Déficit de Escrita).
Se os alunos têm dificuldades de escrever e expor com clareza suas ideias é porque sua cota de informação e leitura é mínima, para não dizer inexistente.
Quando os jovens são chamados aos concursos públicos, o que, infelizmente, está ocorrendo com frequência cada vez maior, a falta de familiaridade com a norma culta da língua tem levado a resultados desastrosos, como assinalam os famosos Exames de Ordem da OAB.
As reprovações acontecem em massa (às vezes o índice é de 80%).
Lê-se pouco e escreve-se mal, o resultado só pode mesmo ser deprimente.
Isso infelizmente alcança também os exames para o magistério.
É fácil imaginar o que ocorre quando o indivíduo se expressa verbalmente, em que as agressões ao vernáculo doem em nossos ouvidos.
Se os alunos têm dificuldades de escrever e expor com clareza suas ideias é porque sua cota de informação e leitura é mínima, para não dizer inexistente.
Ocorreu-nos proclamar da volta da caligrafia às nossas escolas.
Nos bons tempos, ela era praticamente obrigatória, com os educandos levados a preencher as linhas paralelas com letras, sílabas e palavras que, como consequência, nos traziam o conforto de uma adequada expressão escrita.
Aos poucos, o hábito foi sendo superado e, para muitos, o exercício da caligrafia era a comprovação da obsolescência dos nossos métodos.
Nada mais triste do que essa falsa visão de modernidade, hoje agravada pela fúria do acesso aos computadores de qualquer maneira.
O uso das máquinas (blackberry, por exemplo) acelera a resposta, dá uma agilidade aos dedos, mas não facilita o raciocínio, que requer mais tempo para que os neurônios se organizem, de maneira disciplinada e inteligente, nas caixas cranianas.
Do jeito que as coisas caminham, e com essa velocidade coloca-se em risco a sobrevivência da nossa língua inculta e bela, como dizia, no começo do século passado, o inesquecível poeta Olavo Bilac.
As evidências são gritantes: além da eficiência para resolver problemas do cotidiano, a memorização da tabuada é essencial para fazer cálculos mentais, a memorização e para servir de base para às aprendizagens subsequentes.
Portanto fique de olho: se a escola de seu filho não ensina tabuada, cuide para que ele aprenda. Quanto antes, melhor!
Hoje, o único punido no sistema de ensino brasileiro é o aluno reprovado. Isso é covardia.
Nada acontece com professor, diretor, secretário de Educação, prefeito ou governador quando eles falham.
É preciso ter um programa de ensino: afinal, se você não sabe o que ensinar, como vai saber o que avaliar?