Índio quer apito 12/12/2018
- MIGUEL GUSTAVO DE PAIVA TORRES*
Reza a lenda que os descobridores do novo mundo traziam em seus barcos, além do peixe e do porco salgado, muita água, espelhinhos, miçangas e apitos.
A política indigenista dos ideólogos dos reis e imperadores ibéricos, formulada com a participação da Ordem dos Dominicanos e Jesuítas, com oposições internas relevantes, pretendia aculturar, converter, e subordinar.
Em troca dessa “missão civilizatória”, replicada mais tarde no século XIX por franceses, ingleses, alemães, e ainda mais cruelmente por belgas, na África e na Ásia, tudo o que queriam eram dar ou salvar almas dos animais humanos recém descobertos, e recolher todo o ouro, prata e outras riquezas possíveis, como o Pau Brasil, na terra de Vera Cruz, onde viviam mais de dois milhões de indígenas visíveis, com organização social política e econômica própria, cultura e língua, arte, mitos e cosmovisão de fundo religioso.
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O desfecho todos sabem.
No século XX homens de boa vontade e sabedoria, como o Marechal Rondon, os irmãos Villas Boas, e militares com visão estratégica de defesa da soberania nacional, instituíram uma avançada política indigenista no Brasil, com o apoio de destemidos sertanistas.
Como em tudo que se cria no Brasil, o micróbio da corrupção se alastrou e se juntou aos micróbios da gripe e do sarampo para corromper e continuar o massacre dissimulado de culturas e populações originais brasileiras.
País largado ao léu no Oceano Atlântico, e sem estruturas de defesa adequadas, foi pouco a pouco invadido sorrateiramente por missionários no século passado - como na época das descobertas - e por centenas, talvez milhares de ONGs - algumas sérias - vinculadas a interesses de controle e possível dominação externa.
Tudo isso sob os olhos dos governos militares e civis da nossa jovem República que, simplesmente, forneceram o sal, os legumes e as carnes para a sopa de pedras cozinhada nos países desenvolvidos com vista à “proteção” da Amazônia.
Esses missionários e ONGs nunca tiveram o menor interesse nos índios do Sul e do Nordeste.
Para eles, índios no Brasil estavam circunscritos à Amazônia.
As Forças Armadas sempre tiveram conhecimento desses movimentos, assim como o Itamaraty e parte da sociedade envolvida com as questões indigenistas e amazônicas.
Quem se der ao trabalho de ler o capítulo da minha tese “O Visconde do Uruguai e a Consolidação da Política Externa do Império”, ed. Funag, 2011, que trata da Amazônia, verá que, por muito pouco, esta não foi absorvida e colonizada pelos Estados Unidos da América, em uma operação que uniu empresários e militares em época de expansionismo e de proclamação do seu Destino Manifesto, em meados do século XIX.
Os ideólogos das cortes ibéricas distribuíam espelhos, álcool, tabaco, panos e miçangas.
Os novos ideólogos das cortes americana e europeias distribuem celulares, televisões, rádios e Jesus Cristo.
O Presidente eleito Jair Bolsonaro tem razão quando diz que índio quer saúde, educação, cidadania e dignidade.
Da mesma forma que todos os outros cidadãos brasileiros, principalmente os 55 milhões de pobres e miseráveis que sobreviveram às últimas décadas de governos sociais democratas e socialistas de enganação.
E um governo decente deve proporcionar esses serviços públicos fundamentais à índios e não índios.
Mas, atenção.
Uma coisa são remanescentes de comunidades indígenas rurais e urbanas já devastadas nos últimos 200 anos, e outra coisa são as comunidades indígenas que, por um golpe de sorte, e com a proteção das florestas, conseguiram manter intocadas suas organizações políticas, sociais, econômicas, arte, cultura. Mitos e religiões.
Assim também as que mantiveram contato com a “civilização brasileira”, por meio de trabalho sério e rigoroso feito pela banda do bem da Funai e pelas Forças Armadas.
Por isso é fundamental que a nova política indigenista do Brasil tenha um escopo amplo, porque essa política protegerá não apenas a crescente população indígena do país, mas também a integridade e a soberania do Brasil de todos nós.
Mas é necessário um envolvimento técnico e científico dos setores militares e acadêmicos do país comprometidos com uma visão do presente e do futuro.
Não se pode compactuar com grileiros e criminosos destruidores da natureza e de comunidades indígenas indefesas.