Morre o deputado Enéas Carneiro, fundador do Prona 06/05/2007
- Reuters, Agência Estado e Folha Online
O deputado federal mais votado da historia do país, com 1,5 milhão de votos, Enéas Carneiro (PR-SP), 68 anos, morreu na tarde deste domingo vítima de leucemia, após ter sido desenganado há uma semana pelos médicos e ter optado por passar seus últimos dias em casa.
Conhecido pelo bordão ¨Meu nome é Enéas¨, cunhado no início da sua carreira política em 1989, quando criou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), o deputado terá seu corpo cremado no Rio de Janeiro, de acordo com o presidente do partido, Luciano Castro. Ele disse à Reuters que a perda foi grande para o PR e para o Brasil.
¨Era uma figura nacional e sua perda representa uma tristeza muito grande, ele nem teve tempo de viver o novo partido, estava vivendo com muita dificuldade nessa luta contra a doença¨, afirmou Castro no início da noite de domingo.
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Castro comunicou ao líder da Câmara, Arlindo Chinaglia, que decretou luto na Casa na segunda-feira.
Médico cardiologista, Enéas era filho de um barbeiro e uma dona de casa e nasceu em Rio Branco, no Acre. Aos nove anos perdeu o pai e começou a trabalhar para ajudar a família. Aos 20 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou a Escola de Saúde do Exército e, em 1959, graduou-se como terceiro-sargento auxiliar de anestesia.
Deixou o Exército em 1965 e, no mesmo ano, formou-se na Faculdade Fluminense de Medicina, com especialização em cardiologia. Em 1989 decidiu ingressar na carreira política por insistência da esposa, segundo o próprio Enéas, que afirmava que a companheira estava saturada de ouvir o marido reclamar dos políticos e da situação do país.
Com apenas 17 segundos na TV criou o bordão que lhe renderia 360 mil votos na eleição presidencial em 1989. Em 1994, com pouco mais de um minuto na TV, Enéas ficou em terceiro lugar na disputa presidencial, com 4,67 milhões de votos, perdendo apenas para os então candidatos no primeiro turno Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 1998, com 70 segundos na TV, Enéas conseguiu expor algumas de suas idéias nacionalistas, como a defesa da fabricação ¨pacífica¨ da bomba atômica para que o Brasil fosse ¨mais respeitado¨. Contudo, não conseguiu manter o bom desempenho da eleição anterior e terminou o pleito em quarto lugar, com 1,4 milhão de votos.
Logo após sua votação recorde para deputado federal em 2002, que garantiu vaga no Congresso para outros cinco deputados de seu partido, Enéas foi acusado pela Justiça Eleitoral de São Paulo de promover a venda de legenda a candidatos.
Nas eleições de 2006, já debilitado, foi reeleito deputado, cargo que exercia até o agravamento da doença.
Biografia
Deputado pelo PR, Enéas Ferreira Carneiro nasceu em novembro de 1938, em Rio Branco (AC). Fundador do extinto Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), em 2002 foi eleito Deputado Federal com o maior número de votos na história do país (1,74 milhão de votos). Em 2006, Enéas foi reeleito (desta vez com 387 mil votos) para o cargo em que permaneceria até 2010.
Formado em medicina em 1965 pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, Enéas gostava de repetir que foi o melhor aluno em todas as séries do primário ao ginásio ou que passou em primeiro na faculdade. Enéas seguiu seus estudos e fez mestrado em cardiologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em sua primeira tentativa de chegar à presidência (em 1989), ainda desconhecido, amargou no sétimo lugar, mas tornou famoso o bordão ¨Meu nome é Enéas¨, que encerrava seus 15 segundos no programa eleitoral.
Na segunda (1994), deixou para trás pesos-pesados da política, como Leonel Brizola (PDT) e Orestes Quércia (PMDB), chegando em terceiro lugar. Em 2000, Enéas concorreu à Prefeitura de São Paulo, obtendo apenas 3% dos votos válidos.
Um levantamento do Datafolha de 1998 revelou que Enéas era visto como alguém ¨inteligente e brilhante¨. ¨Não é um atributo pelo qual eu tenha mérito nenhum. Foi Deus quem me deu. É como beleza física. Ninguém tem mérito por ser bonito¨, afirmou ele, que tinha na leitura seu maior prazer.
Enéas contabilizava ¨milhares¨ de livros lidos e ¨dezenas de milhares¨ de trabalhos científicos publicados em áreas que vão de estruturalismo, geopolítica e macroeconomia à lógica, epistemologia e cibernética, passando por filosofia, paleantropologia e astrofísica -- e medicina, claro.
Os eleitores o classificavam como um político folclórico e cômico. ¨Acho perfeitamente normal e compreensível¨, disse, afirmando que isso acontece toda vez que surge alguém contrário a um sistema estabelecido.