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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

João de Deus precisa revelar seus comparsas
30/12/2018 - JORGE OLIVEIRA - DIÁRIO DO PODER

As notícias que chegam diariamente à imprensa sobre o João de Deus, o estuprador da fé, são assustadoras. Mas uma coisa ainda precisa ser esclarecida: por que o enviado de Deus agiu livremente durante décadas sob os olhares complacentes da polícia e da justiça de Goiás?

Existiam históricos de denúncias, investigações, processos e até absolvição do João de Deus.

Dono de uma fortuna incalculável, João agia abertamente nos seus covis de cura sem ser incomodado.


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Dinheiro em subsolos camuflados, em guarda-roupas disfarçados, centenas de imóveis, inúmeros carros de luxo, farmácias falsas de manipulação, contas bancárias milionárias e salas particulares para onde ele arrastava suas vítimas para a prática dos seus insaciáveis desejos sexuais.

Tudo isso leva a conclusão de que João nunca esteve sozinho na prática desses crimes.

Não basta apenas indiciar Ana Keyla Teixeira Lourenço, como coautora dos crimes de João de Deus, seu marido, como pretende a delegada Paula Meotti, de Goiás.

Keyla estaria sendo acusada de lavagem de dinheiro e crimes sexuais, pois saberia todo histórico dos abusos do médium.

Depois que uma das vítimas de João, uma holandesa, escancarou o farsante num programa do Bial, da TV Globo, centenas de outras mulheres decidiram que era o momento de desmascarar o médium de celebridades que se escondia sob o manto da impunidade numa comunidade onde centenas de pessoas circulavam pelo local à procura de milagre.

Desses peregrinos, muitos já desenganados pelos médicos, João aproveitou-se da situação de cada um deles para atacá-los como um animal predador, uma besta fera dissimulada de mestre.

O curioso de tudo isso é que João de Deus já respondia a processos sobre os seus ataques sexuais.

Em um deles, a Justiça de Goiás o absolveu por falta de provas. Outros se sucederam e os resultados foram os mesmos.

Ora, será que ninguém desconfiou – nem a polícia nem a justiça – que a reincidência dos atos criminosos de João Deus conduziria a investigação para um estuprador serial?

Antes da holandesa, os indícios mostram que outras mulheres, tão corajosas como ela, também ousaram desafiar o curandeiro, mas se viram impotentes diante do desprezo da polícia e da justiça por suas denúncias.

O que podemos concluir de tanto desprezo das autoridades goianas pelas vítimas é que existia uma cumplicidade que aponta o médium como único mentor desses crimes.

Nada disso ele faria se não tivesse a conivência de parte da comunidade, da polícia e da justiça.

Como se sabe agora que João era dono de uma fortuna incalculável, inclusive em dinheiro vivo, deve-se supor que ele criou uma rede de proteção para acobertar seus ataques sexuais continuados durante décadas.

Portanto, é importante reabrir processos anteriores para saber por que as investigações não avançaram, deixando-o livre para atacar jovens que depositaram nele a fé cristã, a crença ingênua da cura pelas mãos de um estuprador.

A pergunta que não quer calar é: será que interessa à própria justiça e à polícia de Goiás abrirem as próprias vísceras para se autocondenarem?

Certamente que não.

Por isso, soa estranho o anúncio de fechar o inquérito com tanta pressa e assim evitar mexer na casa de maribondo para não serem, eles próprios, picados pelo ferrão do João.

Ninguém, na verdade, quer o João de Deus falando muito, preferem evitar que ele não abra o caderninho para não envolver os parceiros que o deixaram livre para os abusos sexuais por tanto tempo.

Muitas mulheres deixaram de procurar as autoridades para denunciar os assédios desiludidas pela impunidade do João.

Temiam ser vítimas dele que as ameaçavam de morte caso elas contassem os assédios que ocorriam nas salas reservadas.

E motivo para isso não faltava, algumas sabiam da existência das armas apreendidas pela polícia nos aposentos dele.

Diante de tantas denúncias – mais de 600 mulheres já se disseram molestadas pelo médium – o que se espera agora, com a prisão de João, é que a polícia investigue a policia e a justiça investigue a justiça para que não paire dúvidas sobre a cumplicidade das autoridades goianas com os crimes do João que no momento corre sério risco de vida na prisão por se tratar de um arquivo ambulante.

O silêncio do João de Deus interessa a muita gente.


  

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