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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Bento XVI é solitário, tímido e teimoso, diz vaticanista
09/05/2007 - Marcelo Godoy - O Estado de S.Paulo

Para Ettore Masina, solidão de Ratzinger é conseqüência de seu caráter reservado

O vaticanista e escritor italiano Ettore Masina acompanha os papas desde Pio XII. Testemunhou o Concílio Vaticano II e as reformas feitas por João XXIII e Paulo VI. Crítico das ações da cúria romana, defende uma Igreja menos eurocentrica e mais aberta. Deu esse entrevista ao Estado sobre o papa Bento XVI, suas relações com Igreja, os fiéis e a América Latina.

A visita do papa ao Brasil pode se tornar um outro momento difícil para Joseph Ratzinger. O teólogo Bento XVI é de fato compreendido pelo povo?

Nesses dias, está ocorrendo em Roma a Assembléia Plenária da União Internacional das Superioras Religiosas, que representa 794 “famílias” religiosas femininas que operam em 85 países dos cinco continentes. No encontro que teve com elas, papa Ratzinger lembrou o valor da profecia e disse duas coisas muito importantes. A primeira é que o “autêntico profeta não se preocupa tanto em fazer obras, coisa sem dúvida importante, mas jamais essencial”. A segunda é que o profeta “se esforça sobretudo em ser testemunha do amor de deus, procurando vivê-lo entre a realidade do mundo, ainda que a sua presença possa às vezes se tornar incômoda porque oferece e encarna valores alternativos”.


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Ainda que os discursos papais de “ocasião” sejam em geral preparados por algum colaborador, este pareceu-me muito ‘ratzingeriano’. Na primeira idéia vejo a sua desconfiança da dimensão horizontal da fé, que gerou em outros tempos a sua condenação da Teologia da Libertação e na segunda a sua recusa de se preocupar em adaptar a catequese às situações do público ao qual se dirige, mesmo que não se trate de diminuir o rigor de certos preceitos, mas de torná-lo mais compreensível e amável.

Ratzinger é um agostiniano. Na sua luta contra o secularismo moderno podemos compará-lo à criança agostiniana que procurava pôr no seu baldinho a imensidade do oceano?

Bento XVI é muito alemão no seu amor pela razão, muito solitário, tímido e, como acontece com os tímidos, sobretudo quando sozinhos, muito teimoso. Seu amor pela razão dos filósofos gregos é verdadeiramente o de um acadêmico alemão, embora temperado pela convicção agostiniana de que só a verdade de Deus, a revelação, apaga os danos do pecado original que envenena a realidade terrestre. Sob a tomba de Santo Agostinho, em Pavia (Itália), o papa foi pregar há poucos dias, quase em preparação de sua viagem ao Brasil.

A solidão de Ratzinger é certamente conseqüência de seu caráter reservado (não se conhecem seus amigos), mas é conseqüência do fato de ele ter-se sempre mantido fora dos jogos de poder no Vaticano - não tinha necessidade, primeiro por causa da total confiança que João Paulo II tinha nele e depois porque a Congregação para a Doutrina da Fé (Ratzinger a dirigiu de 1981 a 2005) é tão importante que se torna uma ilha de auto-suficiência.

Bento sofre, portanto, também de uma solidão institucional, que foi agravada pelas ausências de João Paulo II causadas pelas grandes viagens e depois pela sua doença, que consentiram (as viagens e a doença de Karol Wojtyla) à cúria romana a máxima liberdade de ação, por exemplo, na nomeação de bispos. Bento está saindo muito lentamente dessa situação. Escolheu como secretário de Estado o cardeal Bertone (Tarcísio Bertone), que havia sido seu braço direito no Santo Ofício (A Congregação para a Doutrina da Fé); nomeou seu sucessor na congregação um homem de sua confiança (o então arcebispo de São Franscisco, d. Willian Joseph Levada) e tolheu muito o poder do cardeal Ruini (Camillo Ruini), chefe dos bispos italianos (referência à Conferência Episcopal Italiana, a CEI) , substituindo-o por Bagnasco (trata-se do arcebispo de Gênova, d. Angelo Bagnasco, que assumiu a CEI em março), mas subtraindo também deste, passando-os a Bertone, as delicadas relações com o Estado italiano. Acho que a solidão pessoal de Ratzinger e sua concentração por anos e anos no Santo Ofício cortaram-lhe a informação e a compreensão da Igreja na América Latina.

O que a Igreja na América Latina deve esperar do papa? Qual a importância da viagem ao Brasil?

Ele insistirá muito sobre os problemas da família, em particular o aborto; sobre a necessidade do apostolado missionário para enfrentar o desenvolvimento das seitas e, sobretudo, na unidade da Igreja, na santidade dos sacerdotes e na melhora dos seminários. Os seus discursos, creio, serão muito verticais. Penso, todavia, que ele não poderá ignorar o 40º aniversário da encíclica de Paulo VI Popolorum progressio (O Progresso dos Povos) sobre os problemas do desenvolvimento e da justiça internacional. Não creio que se ocupe muito da Teologia da Libertação. Se o fizer, usará moderação.

Regensburg e Istambul lhe ensinaram muitas coisas. Entretanto o homem é cheio de contradições: é um racionalista mas também um místico; o seu misticismo o empurra a desafios e é acompanhado de uma singular falta de empatia ou, pelo menos, de uma impressionante incapacidade de manifestar os próprios sentimentos e de compreender os dos outros. Isso faz com que seja quase impossível que atualize não o evangelho, mas o anúncio do evangelho, no estilo do concílio (o Vaticano II). Aparecida pode ser uma nova ocasião de falta de compreensão da complexidade da realidade da Igreja, do substancial eurocentrismo do papa.



  

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