Aprender é mais importante que ensinar 03/04/2019
- SÉRGIO MOURA*
“Bete, querida, não me chegue em casa com nota menor que 5, hein, garota, ou tiro seu celular”, diz o pai Marcelo para a filha de 15 anos no café da manhã antes da prova de Português prevista para aquele dia no colégio.
Estranhou a expectativa medíocre do Marcelo em relação à Bete? Se você fosse pai ou mãe dela exigiria pelo menos um 8, não?
E se Marcelo não exigisse mais que 4,2? Não a estaria ajudando a se preparar adequadamente para ter sucesso na vida profissional.
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Pois é, mas é isso que nossos conterrâneos que cuidam do sistema de educação pública esperam dos nossos jovens: mediocridade intelectual.
A meta Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2017 para o Ensino Médio – não conheço a meta 2019, mas, como o crescimento do índice nos últimos 14 anos foi de menos de 1% ao ano, tende a ser muito parecida com a de 2017 – ficou na nota 4,7 para o Brasil, 4,2 para o Norte, 4,4 para o Nordeste, 4,9 para o Sudeste, 5,1 para o Sul e 4,7 para o Centro-Oeste.
E, pasme, só nove dos 28 Estados (DF incluso) apresentaram média igual ou superior a 4 no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) 2017, mas não mais que 4,4.
Isso quer dizer que a maioria dos nossos jovens de 14 a 17 anos têm o rendimento medíocre que nós estabelecemos para eles.
Uma constatação da nossa incompetência, o que é confirmado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM-Inaf 2018), que afirma que 13% desses jovens são analfabetos funcionais, 42% estão no nível elementar do alfabetismo e só 12% são proficientes.
O Banco Mundial também nos aponta o dedo: estamos na 81ª posição, entre 157 países, no índice de capital humano (ICH). Não é surpresa sermos dos últimos colocados no Pisa.
Por que somos incompetentes?
Já olhou o PNE (Plano Nacional de Educação), criado pela Lei 13.005, de 25 de junho de 2014?
Presumo que esse plano decenal seja visto pelos responsáveis por educação pública como instrumento para sanar com urgência o problema do seu baixo rendimento.
Duvido. Porque o PNE despreza o principal motivo para existência de um plano: a meta que realmente importa, que aqui é aprender.
Para o PNE a meta é, erradamente, ensinar.
Os jovens tiram nota baixa porque não aprenderam.
Ensinar é fácil, querer aprender e dedicar-se a aprender é que é difícil.
Não adianta exigirmos, por exemplo, 50 % de professores pós-graduados no Ensino Médio, como determina a 16ª meta do PNE, se os jovens não quiserem aprender a matéria que ela ou ele ensina.
O PNE devia reduzir-se, portanto, a estimular os jovens a aprender, com metas audaciosas de desempenho escolar, repetidas no Ideb, e recompensas em dinheiro significativas para alunos, seus pais e professores em caso de desempenho superior.
Suas 20 atuais metas são irrelevantes para a melhoria do desempenho escolar dos jovens.
Ao mesmo tempo extinguir a quantidade de organizações que circundam a educação pública e que em nada têm contribuído para sua melhoria significativa, o que nos prova o desempenho do Ideb nos últimos 14 anos, como o Conselho Nacional de Educação, o Fórum Nacional de Educação e as conferências nacionais de educação (Lei 13.005 citada), e sugerir aos Estados e Municípios que façam o mesmo com suas organizações congêneres, o que nos faria deixar de desperdiçar valiosos recursos humanos e materiais e aplicá-los no que interessa, os jovens aprenderem.
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"Advogado, ex-executivo da IBM Brasil, ex-consultor em formulação de políticas públicas, autor dos livros Chega de Pobreza (edição do autor, 2006) e Podemos ser prósperos – se os políticos deixarem (edição do autor, 2018), Fellow do Institute of Brazilian Issues da George Washington University, Oficial da Ordem do Mérito Brasília e detentor da Medalha do Pacificador.