Ladrões na embaixada 29/04/2019
- MIGUEL GUSTAVO DE PAIVA TORRES*
Na chefia do setor político e de imprensa da Embaixada em Santiago fui designado pelo Embaixador Jorge Ribeiro para acompanhar, em seu nome, a delegação de parlamentares da oposição brasileira, chefiada pelo Deputado Fernando Gasparian, que participaria de um Fórum pró-democracia, em um modesto hotel cêntrico da capital, a convite da aliança de partidos opositores ao regime do General Augusto Pinochet.
Jorge Ribeiro, o nosso embaixador, tinha o perfil do que chamamos no Nordeste do Brasil de “cabra macho”.
Tinha exercido a chefia do Cerimonial do General Ernesto Geisel, no Palácio do Planalto, e fama de disciplinado e rigoroso.
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Em Água Branca, no sertão de Alagoas, quando o General Geisel foi ao lançamento das obras do canal do sertão, este mesmo que estão concluindo agora, depois de jorrarem centenas de milhões de cruzeiros, cruzados, cruzeiros novos e reais pela boca do ladrão de suas tubulações, foi confundido por sertanejos simples e observadores, como se fosse o Presidente da República.
Jorge Ribeiro era quem dava as ordens ao General sobre onde se posicionar e mostrava o relógio para cumprimento do horário.
Os meus conterrâneos tiveram a certeza, assim, de que aquele homenzarrão louro e com autoridade era o Presidente do Brasil, e não o pacato Geisel.
O embaixador, para desespero do governo pinochetista, ofereceu não só todo o possível apoio logístico à delegação chefiada por Gasparian, como também promoveu um jantar inesquecível reunindo nossa delegação com todos os partidos opositores e suas lideranças, no palacete que pertenceu à família Edwards e é patrimônio histórico chileno.
A delegação brasileira tinha alhos e bugalhos.
Políticos sérios e respeitáveis, como o próprio Gasparian, e os turistas sem vergonha que aproveitam essas missões para viajar e se divertir com o dinheiro público.
Terminado o jantar fui procurar, um a um, os nossos parlamentares para conversar sobre a agenda do outro dia.
Choque: Um pequeno bando de ratos, liderado por um famoso deputado do MDB da Bahia, que ficou famoso gritando impropérios contra o regime Pinochet, estava esvaziando todas as caixas de prata e roubando todos os caríssimos charutos cubanos, comprados do próprio bolso pelo Embaixador.
Alguns também enfiavam colheres e outros pequenos artefatos de prata nos bolsos das calças e dos paletós.
Não deram a mínima quando viram que eu vi.
Mas saíram apressados da residência quando me viram ir conversar com o Embaixador e com sua esposa, a suave e inteligente gaúcha, Inês Lívia Pellegrini.