A crise e os pinos da tomada 18/06/2019
- EDITORIAL O ESTADÃO
Continuam caindo velozmente as previsões de crescimento econômico para este ano e para 2020. Um enorme fiasco marcará a primeira metade do governo Bolsonaro, se os fatos confirmarem as avaliações do mercado.
Na semana passada já estava em 1% a expansão prevista para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2019. Agora, nem isso.
No meio de muita confusão política e de muita incerteza sobre os negócios, a nova projeção, divulgada ontem, já está em 0,93%.
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A pesquisa entre economistas do setor financeiro e de grandes consultorias foi fechada na última sexta-feira.
Naquele dia, as atenções do Congresso e do mercado estavam centradas no trabalho apresentado pelo relator do projeto de reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira.
Outras preocupações, no entanto, dominavam o presidente da República e vários de seus principais auxiliares.
Uma dessas preocupações era a tomada de três pinos, como foi noticiado no começo daquela noite.
No mercado, as apostas para o próximo ano também continuaram em queda.
Pela nova estimativa, o PIB crescerá 2,20% em 2020. Quatro semanas antes a projeção ainda estava em 2,50%, cálculo ainda mantido para 2021 e 2022, segundo a pesquisa Focus do Banco Central (BC).
A visão cada vez mais sombria das condições econômicas nos próximos meses começou a contaminar claramente, há pouco mais de uma semana, as expectativas em relação ao próximo ano.
Indústria, varejo e serviços continuam muito mal, pela maior parte dos dados conhecidos até agora, e o comércio externo tem perdido vigor.
Há poucas dúvidas sobre a aprovação da reforma da Previdência, mas nem isso estimula empresários a assumir riscos além dos indispensáveis para continuar operando.
Em maio, o índice de confiança do empresário industrial caiu pela quarta vez consecutiva, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A queda se estendeu, portanto, por quase todo o mandato do presidente Jair Bolsonaro.
O desempenho do setor industrial deve continuar muito ruim neste ano e estabilizar-se em nível medíocre nos próximos, segundo as expectativas apontadas pela pesquisa Focus.
A produção industrial deve crescer 0,65% em 2019, segundo o boletim publicado ontem.
A taxa é maior que a registrada na pesquisa anterior, de 0,47%, mas ainda inferior a metade da publicada quatro semanas antes, 1,47%. Mesmo esta previsão já era muito baixa.
As estimativas para os dois anos seguintes também têm caído.
Agora se estimam taxas de 2,80% para 2020, 2,75% para 2021 e 2,85% para 2022, num cenário de evidente estagnação.
A mensagem vem sendo transmitida pelos economistas há meses.
A reforma da Previdência é indispensável, mas insuficiente para livrar o País do marasmo econômico.
Não há sinal claro, no entanto, de providências para tornar os negócios mais dinâmicos.
Além de algumas ações para simplificar a vida empresarial e de uma promessa de reforma tributária, poucas medidas economicamente importantes aparecem na pauta do Executivo.
Mesmo sobre a reforma tributária poucas informações claras, organizadas e convincentes foram divulgadas.
Não há, também, sinais de providências para movimentar a economia a curto prazo, nem depois de aprovada a reforma da Previdência.
O governo continua agindo como se a prolongada estagnação, os resultados muito ruins deste ano e o desemprego de cerca de 13 milhões de trabalhadores fossem questões secundárias agora nos próximos meses.
Distante das questões mais urgentes para o mercado e para as famílias empenhadas em sobreviver, o presidente se ocupa da tomada de três pinos e do armamento da população.
Demite o ministro-chefe da Secretaria de Governo por ter contestado seu guru Olavo de Carvalho.
Por motivo ideológico, leva à demissão o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Atropelado, o ministro da Economia se cala, reforçando as dúvidas sobre quem manda em sua área.
Pode haver alguma surpresa, se as expectativas econômicas pioram a cada semana?