Quem vem observando o presidente Messias nos últimos meses tem se divertido a valer. Toda semana alguma atitude do nosso mandatário surpreende e diverte.
E lá vão Casa Civil e porta-voz tentar pôr as coisas de volta aos trilhos. Pode ser um tuíte, uma declaração, um flagrante qualquer. Ou um gesto, uma foto, uma escapadela do protocolo.
Nas últimas semanas, mais do que observar este comportamento anedótico, procurei encontrar a razão para que isso aconteça com tanta frequência.
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Os menos atentos dirão que Trump também é assim. Mas não é. O presidente americano tem uma agenda por trás das bobagens que emite.
Por exemplo, no final de semana passado, Trump sugeriu que congressistas afro-americanos, latinos, palestinos e somalis voltassem aos seus países de origem. Polêmica.
Mas é polêmica alinhada com o seu velho discurso xenófobo, que habilmente seus marqueteiros resumiram no slogan de teor nacionalista “Make America great again”.
Por isso, estou convencido que a origem das patacoadas do presidente Messias repousa na falta de um slogan inspirador.
Afinal, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” é uma frase bonita, patriótica e que emociona a bancada evangélica, só que não propõe nenhum objetivo concreto e, principalmente, não oferece ao presidente uma justificativa para seus tuítes.
Aí o coitado fica a atirar para todos os lados.
Alguns poderiam dizer que o “Make America great again” é tão sem inspiração quanto. Seria o caso se fosse, digamos, “America is great, God is greater”.
A questão é que esse “make” faz toda a diferença. Porque slogan bom tem que ter voz de comando, vender a ideia de firmeza.
O que dizer do antológico “Yes, we can” do Obama, que poderia ser traduzido livremente para algo como “A gente aqui nos EUA pode tudo, meu filho”.
Nós mesmos tivemos, no passado, slogans do jeito que manda o figurino. Aliás, antigamente a coisa era feita do modo inverso e dava muito mais certo.
Primeiro o político decidia qual seria o foco do seu projeto de governo, então o slogan refletia este objetivo. Não eram mensagens genéricas como essas atuais. Nada disso.
Os slogans do passado eram verdadeiros contratos. Querem um bom exemplo? Com a chegada da indústria automobilística, Washington Luiz se elegeu, em 1926, com o lema “Governar é abrir estradas”.
Olha aí que beleza. Fácil e objetivo. Abriu estradas: missão cumprida.
O que dizer do clássico de Getúlio Vargas, em 1953, com “O petróleo é nosso”.
Algo que vale até nos dias de hoje, desde que com o adendo “… e os contratos são do PT”.
Tem ainda o que elegeu Juscelino Kubitschek: “50 anos em 5”. Uma meta e um prazo em apenas quatro palavras. Perfeito.
Aí veio Jânio Quadros, com o “Varre, varre, vassourinha”, prometendo acabar com um problema que existia lá no passado: a corrupção.
Adivinha se varreu? Mas não importa. A meta estava lá. Até o governo militar teve o ufanista “Brasil, ame-o ou deixe-o”, que na época os opositores completavam maldosamente com “O último que sair, apague a luz”.
Aí temos nosso Messias, pobrezinho, sem ter no que se agarrar. Por isso acho que a solução para este governo reside na mudança desse slogan sem tempero para algo picante como a personalidade do próprio presidente.
Opções não faltam por aí. E não causaria vergonha alguma buscar inspiração no que deu certo no passado. Por isso, humildemente, sugiro: “Brasil, o revólver é nosso”;“Brasil, hétero ou deixe-o”.
Ou algo mais comprometido com algum projeto específico. Pode ser: “Vamos fazer a Previdência grande de novo”.
Mas o meu preferido, sem dúvida, é: “Yes, he can”, para garantir a embaixada de Eduardo Bolsonaro em Washington.
Pode não ser o que todo mundo deseja, mas renderia tuítes alinhados com uma meta clara e objetiva. E no final, é só isso que importa.