Sob a proteção dos fatos 21/07/2019
- J.R. GUZZO - VEJA
Nada como recorrer de tempos em tempos aos fatos, aos puros, simples e honestos fatos, para saber com mais segurança e menos ansiedade onde, exatamente, a gente está pisando — sobretudo nessas horas em que o chão está se mexendo, mas não se sabe bem para onde.
Vai aqui, então, um fato para ninguém botar defeito: o governo acaba de ganhar uma votação na Câmara dos Deputados por 74% dos votos. É isso mesmo: 74%.
Podem ter enchido sua cabeça e sua paciência, nos últimos seis meses, com todos os tipos de sentença demonstrando que a reforma da Previdência Social brasileira seria materialmente impossível.
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Jamais o governo, e ainda mais “este governo”, aprovaria reforma alguma no Congresso, e ainda mais “esta reforma”.
Pura perda de seu tempo. Chegou a hora da verdade e o projeto oficial ganhou com a monumental maioria de 74% dos votos possíveis na Câmara dos Deputados.
Não há nada que se possa fazer a respeito: fatos são fatos, não teorias ou possibilidades, e o que eles acabam de provar é uma realidade aritmética indiscutível.
Todo mundo tem o direito de detestar o governo de Jair Bolsonaro, mas os 379 votos que a reforma acaba de receber perfazem 74% dos 513 deputados brasileiros — e, se isso não é uma vitória histórica, vai ser preciso reescrever o verbete “vitória” nos dicionários de português.
Um dos resultados mais evidentes e imediatos desses fatos é que o chão passa a tremer bem menos — fica claro, desde logo, que os grandes projetos que o novo governo tem em sua gaveta desde a campanha, sobretudo os que tratam de deixar a economia do Brasil mais livre, contam com um grau de viabilidade muito maior do que se fala todos os dias.
Uma reforma tributária positiva, por exemplo, ou a nova Lei de Liberdade Econômica deixam de ser fantasias, promessas eleitorais ou mera conversa fiada — passam à categoria das coisas que realmente podem acontecer.
É o caso de pensar uns poucos minutos: uma reforma da Previdência que na hora do “vamovê” consegue 74% dos votos obviamente nunca esteve ameaçada, não no mundo das realidades, desde que foi posta no pano verde onde verdadeiramente se decidem as questões de gente grande da vida pública. Como pode ter estado ameaçada com esses números?
Mais: foi aprovada em apenas seis meses, um prazo prodigiosamente curto para qualquer proposta dessa tonelagem.
Experimente aprovar em seis meses uma reforma parecida na Inglaterra ou na Alemanha; pode ficar esperando sentado.
Por que teria de ser muito diferente, então, com as outras grandes mudanças que o governo pretende aprovar nos próximos três anos e meio? O terreno ficou mais firme, é um fato.
As reações entre os adversários da reforma, ou do governo, têm sido geralmente cômicas até agora — o que é sempre um bom sinal.
A primeira reação por parte dos meios de comunicação tem sido, simplesmente, não falar nos 74% — é como se tivesse acontecido só mais uma votaçãozinha vagabunda, dessas que se encontram na primeira esquina.
Isso ajuda, possivelmente, a reduzir o nervosismo dos jornalistas, mas não muda nada.
O resultado no placar eletrônico continua sendo exatamente o mesmo.
Houve, também, o habitual lançamento de expedições em busca de problemas inexistentes.
Foi apresentada, com o impacto de uma bomba de hidrogênio, uma possível redução de “30 bilhões” na economia de 1 trilhão de reais calculada pelo governo, por causa de emendas ao texto original.
E daí, se fosse isso mesmo? Seriam 3% do total.
Foram feitas contas sinistras sobre a soma a ser economizada com a reforma — seriam só 750 bilhões em dez anos ou coisa parecida.
Quem pode acreditar, a sério, nesses chutes?
Chamem dois especialistas para falar do assunto; vão acabar vindo com três números diferentes.
Nem o governo, na verdade, deve saber qual é o número exato. Possivelmente, aliás, esse número não existe.
Um jornal chegou a encontrar professores dispostos a dizer que a reforma poderia ser “recessiva” — e por aí se vai.
Corra, então, para a proteção oferecida pelos fatos.