Pé de pato, mangalô 3 vezes 30/07/2019
- HÉLIO SCHWARTSMAN*
A França anunciou neste mês que, até 2021, seu sistema de saúde deixará de reembolsar tratamentos homeopáticos.
A decisão se segue à apresentação de uma avaliação científica conduzida pela Alta Autoridade de Saúde, que concluiu que a homeopatia não apresenta eficácia suficiente para permanecer no sistema de reembolsos.
A Alemanha dá indicações de que poderá seguir no mesmo caminho, que já foi adotado pelo Reino Unido em 2017.
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A maioria dos países da UE não financia a homeopatia em seus sistemas públicos.
Nos EUA, desde 2016, preparados homeopáticos precisam trazer em seus rótulos o alerta de que não há evidência científica de que funcionem — ou, alternativamente, podem se submeter a um processo de revisão pelo FDA para provar que têm ação superior à de placebos, o que ninguém conseguiu fazer.
Pelo menos desde 2005, depois que a revista médica The Lancet publicou uma grande meta-análise mostrando que a homeopatia não se distingue de placebos, é clara a tendência dos países civilizados de despachá-la da esfera da ciência para as franjas do esoterismo. Várias universidades cancelaram seus programas de homeopatia.
No Brasil, a tendência tem sido exatamente a oposta. O Conselho Federal de Medicina insiste em reconhecer a homeopatia como especialidade.
Pior, ao menos até a gestão Temer, havia um forte movimento de incorporação ao SUS de todas as espécies de terapias alternativas, incluindo, além da homeopatia, reiki, crenoterapia, reflexoterapia.
É incrível que, enquanto países ricos se esforçam para obter o melhor retorno possível para cada centavo investido em seus sistemas de saúde, segundo avaliações científicas, o Brasil se dê ao luxo de financiar crendices.
Não consegui descobrir o que Bolsonaro pensa da homeopatia, mas, já que seu governo tem forte predisposição a caçar bruxas, eis aí um sortilégio que não faria mal em expurgar.