Conselho vai investigar evolução patrimonial de Renan 05/07/2007
- Gabriela Guerreiro e Renata Giradi - Folha Online
O Conselho de Ética do Senado vai fazer um levantamento da evolução patrimonial do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) entre os anos de 2002 e 2006 para comparar com a execução de obras da empreiteira Mendes Júnior no mesmo período.
Dois dos novos relatores do processo contra Renan no conselho -- Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS)-- decidiram na manhã desta quinta-feira aprofundar as investigações sobre o presidente do Senado e solicitar à Polícia Federal o aprofundamento da perícia nos documentos encaminhados pela defesa de Renan.
O senador é acusado de utilizar recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão alimentícia e aluguel à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento. Renan também responde a acusações de que teria beneficiado a empreiteira com a liberação de emendas parlamentares para obras executadas pela empresa.
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O Conselho de Ética vai aguardar o resultado da perícia da PF nos documentos para dar continuidade às investigações sobre o caso Renan -- mesmo que isso ocorra somente depois do recesso parlamentar de julho.
Os relatores e o presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), se reúnem ainda na manhã de hoje com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, para formalizar o pedido da perícia.
¨Vamos debater com a PF quais os procedimentos necessários para a conclusão da perícia. Com essas informações, vamos determinar o encaminhamento dos trabalhos. Precisamos da perícia e do aprofundamento das investigações. Se a PF precisar de 15, 30 dias, terá esse prazo¨, disse Casagrande.
Quintanilha afirmou que um possível depoimento de Renan será discutido somente depois da conclusão da perícia. ¨O depoimento será em um segundo momento. O conselho vai deixar o representado se manifestar¨, afirmou.
Casagrande disse acreditar que Renan terá interesse em comparecer pessoalmente ao Conselho de Ética para apresentar sua versão sobre as denúncias. ¨Eu acredito que o representado vai querer ir ao conselho. O Senado passou por momentos de dificuldades, já sangrou muito. Começa agora a estancar suas feridas.¨
O relator disse que o conselho vai buscar ¨todas as informações que forem necessárias¨ ao caso Renan, mesmo com a pressão de aliados do senador para que o conselho concentre as investigações somente nas ligações dele com a Mendes Júnior. Renan também é acusado de apresentar notas fiscais frias para comprovar parte de sua renda com a venda de gado em Alagoas.
Ausência
A primeira reunião dos novos relatores do caso Renan foi marcada pela ausência do senador Almeida Lima (PMDB-SE), escolhido para a função ao lado de Casagrande e Marisa Serrano. O senador foi substituído na reunião por aliados depois de sofrer ontem uma crise renal e pressão alta.
O peemedebista se tornou um dos principais defensores de Renan desde que as denúncias contra o presidente do Senado vieram à tona. A oposição resistiu à indicação de Lima para a relatoria tripla, mas acabou cedendo depois que o PMDB insistiu na indicação do senador para acelerar as investigações do caso.
A decisão de criar uma comissão de três senadores para o processo foi tomada diante do impasse para a escolha de um único nome para a função. Apesar da relatoria conjunta ter sido criada em comum acordo entre governo e oposição, os senadores reconhecem que terão dificuldades para unir os trabalhos em um único relatório -- já que Lima é aliado de Renan, Casagrande cobra investigações detalhadas do caso e Serrano é a representante da oposição na relatoria do processo, favorável ao afastamento de Renan da presidência do Senado.
Suplente de Roriz tembém com o pé no laço
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), afirmou nesta quinta-feira que só vai se ocupar das denúncias que envolvem Gim Argello (PTB-DF), suplente do ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), depois que ele assumir a vaga no Senado.
¨Cada sofrimento a seu tempo¨, afirmou à Folha Online Quintanilha, que disse estar desempenhando sua função ¨como se fosse uma missão¨.
Argello deve ser investigado pelo Senado porque o líder do PSOL na Casa, José Nery (PA), sinalizou ontem que seu partido deve representar contra o suplente por quebra de decoro parlamentar.
O ex-deputado distrital e advogado é acusado de grilagem de terra e citado na Operação Aquarela, comandada pela Polícia Civil do Distrito Federal, que descobriu um esquema de desvio de dinheiro do BRB (Banco de Brasília), entre outras denúncias.
¨Vamos esperar que ele [Gim Argello] tome posse e assuma a cadeira para, depois, analisarmos. É preciso também aguardar para verificar se essa representação [planejada pelo PSOL] vai ser encaminhada e depois apreciá-la¨, afirmou Quintanilha.
A expectativa ontem era que Argello e o segundo suplente de Roriz, Marcos de Almeida, aceitassem a proposta do ex-governador para uma renúncia em bloco. Porém, Argello não foi localizado pelos correligionários de Roriz, indicando que não manteria o acordo inicial. Interlocutores informam que ele assumirá a vaga na semana que vem.
Denúncias
De acordo com reportagem publicada pela Folha, foi divulgado em 2002 um vídeo em que um deputado distrital conta a um colega também parlamentar que Argello teria recebido 300 lotes em troca de apoio à aprovação de lei que regularizava o condomínio Alto da Boa Vista, em Brasília.
Outra denúncia é que no período em que foi presidente da Câmara Distrital do Distrito Federal, Argello foi acusado em ação civil pública e um processo no Tribunal de Contas do DF -- ainda não julgados definitivamente-- sob a suspeita de que estabeleceu contrato de informática para a Casa que causou um prejuízo de R$ 1,7 milhão aos cofres públicos. Argello apresentou recentemente sua defesa nesse processo.
Há, ainda, acusações contra Argello de suspeita de crime contra o sistema financeiro nacional, pendências com o Fisco e citações nas investigações da Operação Aquarela.