Pacote deve levar a reajustes e redução da oferta de assentos 23/07/2007
- Mariana Barbosa e Tânia Monteiro - O Estado de S.Paulo
Medidas afetam produtividade do setor, que já prevê corte de 30% de vagas nos vôos
A crise aérea no Brasil vai continuar. Após dez meses e os dois maiores acidentes da história da aviação brasileira com 350 mortos, o Conselho Nacional de Aviação Civil anunciou na sexta-feira um pacote para o setor, limitando vôos nos aeroportos de São Paulo. Mas, para especialistas, executivos de empresas aéreas, sindicalistas e aviadores, as medidas são insuficientes. A curto prazo, o pacote aumentará os custos das empresas, encarecendo passagens, pois diminuirá, segundo o secretário-geral do sindicato das empresas aéreas, Anchieta Helcias, em até 30% a oferta de assentos. Vai também impedir o crescimento do tráfego em São Paulo enquanto não for criado o terceiro aeroporto. A seguir, as opiniões dos especialistas.
O pacote anunciado pelo governo é suficiente para conter a crise aérea?
Não. As dificuldades no setor incluem o tráfego aéreo, a infra-estrutura aeroportuária e a gestão do sistema.
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Quais as principais medidas que devem ser tomadas para resolver de uma vez a crise?
Em relação ao controle, é preciso decidir de uma vez por todas se o sistema será militar ou civil. Depois, é preciso contratar mais gente e, segundo o engenheiro Anderson Ribeiro Correia, professor de Aeroportos e Logística do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), devem-se adotar novas tecnologias de tráfego aéreo para automatizar funções e reduzir o stress de controladores. Por fim, é necessário que a Aeronáutica volte a controlar seus homens, acabando com os motins. As obras de infra-estrutura incluem áreas de escape nas pistas com concreto poroso, a ampliação de aeroportos, como Cumbica e Viracopos, melhorando o acesso a esses lugares. Quanto à gestão, é preciso acabar com o conflito entre os órgãos do setor, o que leva à paralisia. A decisão deve visar o desenvolvimento com segurança. Além disso, a Agência Nacional de Avião Civil (Anac) deve fiscalizar mais as empresas aéreas. “Até hoje, a Anac só aplicou R$ 90 mil em multas, dinheiro de pinga para um setor que movimenta milhões”, diz o pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luís Alexandre Fuccille.
A construção de um terceiro aeroporto em São Paulo é necessária e viável tecnicamente?
A maioria dos técnicos diz que sim. O problema é que a medida devia ter sido tomada há muito tempo e não agora, depois de 350 mortes. Até mesmo o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, disse que a agência “há muito achava necessário um novo sítio em São Paulo capaz de atuar com equipamento ISL-3 (o mais moderno sistema de pouso por instrumento)”. Para o ISL-3 funcionar é preciso não haver construções num raio de alguns quilômetros da cabeceira da pista. É por isso que Congonhas e Cumbica não têm o equipamento. O novo aeroporto deve estar numa área que permita a ampliação futura e ficar a uma distância de 50 km dos atuais para que se tenha conforto na hora de se redistribuir o tráfego aéreo. As pistas devem ser paralelas às de Cumbica e de Congonhas, para facilitar a coordenação dos corredores de entrada e saída dos aviões.
Quais as conseqüências a curto prazo das restrições de vôos determinadas pelo Conac em Congonhas e Cumbica?
Muitas. O preço das passagens aéreas deve subir, pois a oferta de assentos deve cair em 30%. Isso porque as empresas perderão parte da produtividade alcançada no uso maior de suas aeronaves que a liberdade para a organização da malha viária lhes havia dado em 2003. Ela havia permitido que os aviões passassem mais tempo no ar - a TAM voava sete horas por dia com seus aviões e passou a voar 13 horas. O aumento da oferta de assentos diminuiu em 33% o preço das passagens. As conexões em Congonhas eram importante para isso. O avião saía do Sul do País e voava até chegar ao Norte ou ao Nordeste. Qualquer atraso no início ou no meio da linha, atrasa os vôos seguintes. As novas medidas impedirão ainda que o aumento de demanda seja atendido no Estado com mais vôos. Haverá ainda perdas para o turismo paulista.
A construção da 3.ª pista em Cumbica não seria uma solução mais barata e rápida do que o novo aeroporto, que custará R$ 5 bi?
Ela já devia ter sido elaborada nos anos 80, o plano diretor do aeroporto previa a pista em 2007. Para a Infraero, é mais barato construir o novo aeroporto do que remover 20 mil pessoas que moram perto de Cumbica para fazer a pista.
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*Colaboraram Bruno Tavares, Camila Rigi e Marcelo Godoy