A escritora cuiabana Sueli Rondon, autora do livro “A CASA DA ESQUINA” de contos e outras histórias, me enviou “AS LAVADEIRAS”, texto que passo a transcrever e no final faço algumas considerações.
“Sentada no banco de trás com o rosto colado ao vidro do carro, passando sobre a ponte Júlio Muller, a menina avistou lá em baixo, as lavadeiras.
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Estavam de saias amarradas nas coxas na altura acima dos joelhos, elas labutavam.
Uma sovava a roupa branca sobre a pedra, outra, já torcia e estendia sobre o pedregulho a fim de secá-las sob o sol quente.
Crianças brincavam nas águas cálidas do rio Cuiabá refrescando-se e nadando sempre em algazarra, sem, no entanto, afastarem-se de suas mães.
Outra, ofício concluído, subia a rampa equilibrando na cabeça a enorme trouxa de roupa lavada.
Qual felizes pareciam aquelas crianças, brincando n´agua pensou.
Mais ao longe na outra margem do rio, um canoeiro deslizava sua canoa no remanso do rio, com o movimento do remo em ritmo tão suave e belo, que parecia tocar o remo ao som do violoncelo”.
Uma das tradições de Cuiabá era o seu rio piscoso, que cortava a cidade que leva o seu nome, com as suas lavadeiras e canoeiros que enchiam o seu barco de peixes.
Às suas margens inúmeros pescadores de anzol, retiravam com facilidade o pacu, seu peixe mais famoso com a tradição repetida até hoje, de que “quem come cabeça de pacu, nunca mais deixa a cidade”.
Depois da inauguração da ponte Júlio Muller (1942), muitos pescavam lá de cima e a gurizada pulava para tomar banho.
A escritora Sueli Rondon era a menina que passeava de carro pela ponte em direção a atual cidade de Várzea Grande, de “rosto colado no vidro do carro” e relata o que viu quando criança com perfeição.
O calmo rio Cuiabá, com suas lavadeiras, crianças e canoeiros.
O rio Cuiabá que a todos encantava, foi o responsável pela existência da capital eterna de Mato Grosso.
Os bandeirantes paulistas que aqui vieram buscar o nosso ouro, esbarraram no rio Cuiabá.
Do outro lado do rio, escondido nas suas matas os índios a tudo assistiam.
Os sorocabanos não sabiam pescar e muito menos se aventuravam a atravessar o rio a nado.
Os índios se enganaram considerando-os amigos e iniciaram a jogar peixe para eles se alimentarem.
Depois os conduziram de canoas para a outra margem do rio que veio a se chamar Cuiabá, nome indígena.
Os paiaguás também os levaram pelos caminhos na mata fechada até o local das minas de ouro, na região da atual Igreja do Rosário, mais conhecida como Igreja de São Benedito.
A escritora Sueli Rondon escreve regularmente sobre as suas memórias de uma menina cuiabana.
O tema das lavadeiras, canoeiros e crianças banhando no rio Cuiabá é sempre atual, dando oportunidade aos leitores de viajarem no tempo.