IDH: Brasil avança menos do que outros países 27/11/2007
- Denize Bacoccina - BBC
O economista brasileiro Flávio Comin, assessor especial para Desenvolvimento Humano da ONU e um dos autores do relatório de desenvolvimento humano divulgado nesta terça-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), diz que é preciso ter cautela na hora de avaliar a importância da classificação do Brasil entre os países de alto desenvolvimento humano.
“É um fato simbólico, mas é preciso cautela na leitura dos números”, afirmou. “O Brasil vem avançando em termos absolutos e caindo em termos relativos”, disse.
O país passou de 0,798 para 0,800 entre 2004 e 2005 (num índice que vai até 1), mas caiu da 69ª para a 70ª posição no ranking de 177 países neste mesmo período. “É a questão do copo meio cheio ou meio vazio. Pra mim, o copo está meio vazio”, diz Comin.
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A piora em relação a outros países, apesar da melhora dos indicadores em termos absolutos, mostra que o Brasil está avançando, mas indica que os outros países estão avançando mais, avalia o especialista. “O IDH foi feito para comparar vizinhos”, afirma.
Um cálculo da ONU mostra o peso dos indicadores sociais e do crescimento econômico no estágio de desenvolvimento de cada país, o que permite que se comparem os países listados de acordo com esses dois aspectos.
O cálculo indica que, nos outros países da América Latina classificados como de alto desenvolvimento humano – Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Cuba e México –, o aspecto social é mais desenvolvido do que o PIB per capita. Já no Brasil, o PIB per capita se mostrou mais avançado do que os indicadores sociais.
Pobreza e desigualdade
Além do IDH, ele diz que é preciso olhar outros dados, mais específicos, para avaliar melhor a situação do país em termos de desenvolvimento humano.
Os cinco principais indicadores, diz ele, são pobreza humana, desigualdade, saneamento, mortalidade infantil e mortalidade materna.
O saneamento básico no Brasil, acessível a 75% da população, é menor do que vários países que estão classificados como de desenvolvimento médio. A Síria, em 108º no IDH, tem 99% de saneamento no país.
Outro indicador importante, diz Comin, é a mortalidade infantil. A média brasileira de 31 mortes por mil crianças nascidas é maior do que na maior parte da região, mas o indicador mais preocupante, segundo ele, é a desigualdade entre as camadas mais ricas e mais pobres da população.
Enquanto entre os 20% mais ricos a mortalidade infantil é de 29 por mil, entre os 20% mais pobres salta para 83 por mil. “É uma taxa africana”, diz Comin.
Já a mortalidade materna é de 110 por 100 mil, quase o dobro da Venezuela, por exemplo, de 57 por 100 mil.
O coordenador do relatório, Kevin Watkins, elogiou os programas de distribuição de renda do governo brasileiro e os resultados ¨dos últimos quatro ou cinco anos¨ na redução da desigualdade.
¨Frequentemente os economistas nos dizem que é preciso escolher entre crescimento econômico e redistribuição, e o Brasil está mostrando que se pode ter os dois¨, afirmou.
A expectativa dos especialistas é que o Brasil continua a melhorar o índice nos próximos anos, mas a classificação no ranking depende também das ações dos outros países, que podem melhorar sua condições num ritmo mais acelerado.