O último refúgio dos canalhas 11/01/2008
- Reinaldo Azevedo
Asqueroso!
Eis uma boa palavra para definir certo jornalismo que resolveu transformar a operação de compra da Brasil Telecom pela Telemar num ato de resistência nacionalista.
Segundo a versão oficial ditada por Franklin Martins e pressurosamente espalhada por áulicos, anões, mascates e jornalistas “dualéticos”, Lula, o Numinoso, quer criar uma grande empresa nacional para competir com as gigantes estrangeiras — caso contrário, as brasileiras seriam engolidas.
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Por isso, mobilizou o governo para dar suporte à operação. Com um detalhe: nunca antes nestepaiz se fez um negócio bilionário que depende de uma mudança ad hoc da lei: se Lula não alterar o decreto da Lei das Outorgas, nada feito. Mas ele prometeu mudar. Seu amigo Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, ficará feliz. Carlos Jereissati, da Telemar, sócia de Lulinha da Gamecorp, também.
Alguma novidade nisso? Não, como ficou evidente aqui. VEJA havia noticiado a “operação” em dezembro de 2006. O mais curioso é que a máquina de propaganda oficial resolveu que a verdade dos fatos é pura conspiração do capeta de plantão, Daniel Dantas. O que se tem aí não passa de escárnio legal. Quer dizer, então, que o presidente só aceita mudar a lei para beneficiar uma empresa se ela se submeter a determinadas condições, é isso? Os fundos de pensão só topam negociar se não houver empresas estrangeiras na parada? Esperem aí: estamos falando de um país institucionalmente organizado ou de uma república bananeira?
Cada um vende a sua participação numa empresa a quem quiser, de acordo com a legislação. É do capitalismo. Mas o que se está fazendo, no caso, é um megacartório. Somos informados de que o dinheiro do BNDES só sairá se for um negócio entre A e B; somos informados de que os fundos de pensão só aceitam a operação se C e D não participarem. Se a Telemar, a sócia de Lulinha, quiser comprar a Brasil Telecom, o governo oferece facilidades, mas, se for a Telefonica, nem pensar, é isso? A Constituição Brasileira voltou a discriminar empresa estrangeira, e o país não foi avisado?
Ah, sim: a seu amigo Sérgio Andrade, Lula teria dito que não mudará a lei se descobrir que a operação visa apenas a interesses comerciais. Ufa! Ainda bem que esse grande patriota nos protege! Agora entendi: tudo está sendo feito para o nosso bem e em defesa dos interesses nacionais.
Vá lá. Não espero dessa gente nada de muito diferente. O que provoca minha náusea profissional é o jornalismo patriota. O patriotismo, definitivamente, é o último refúgio dos canalhas.