Filha ¨aborrecente¨ tira o sono dos Kirchners 20/01/2008
- Tribuna da Imprensa
O ex-presidente Néstor Kirchner forçou os credores da dívida pública argentina a aceitar uma indigesta reestruturação de seus bônus. Kirchner enfrentou as privatizadas e as obrigou a manter um congelamento de tarifas que ainda está em vigência. Sua esposa e sucessora Cristina Fernández de Kirchner confrontou-se com o governo americano e o acusou de realizar ¨operações sujas¨ contra a Argentina. A presidente controla com mão de ferro 19 dos 24 governadores do país, que lhe obedecem sem titubear.
Mas, o significativo poder dos Kirchners - e sua persistência em confrontos e vencer as paradas políticas mais difíceis - termina, dentro da residência oficial de Olivos, na porta do quarto de sua filha adolescente, Florencia Kirchner.
A irreverente ¨primeira-filha¨ - caso único (junto com seu irmão Maximo, de 30 anos) de filha do ex-presidente e ao mesmo tempo filha da atual presidente - de 17 anos, tira o sono do casal Kirchner. O motivo das preocupações presidenciais é o ¨Florkey¨ (Florkey), um dos fotologs de maior sucesso entre os adolescentes argentinos, realizado pela própria Florencia.
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O fotolog de Florencia transformou-se em uma trincheira de rebeldia adolescente desde a qual a jovem dispara ironias sobre sua própria família e exibe poses em lugares públicos portenhos, entre elas, as que a mostram viajando na linha D do metrô portenho, sem a companhia dos guarda-costas, que supostamente previamente driblou. Como a maioria dos adolescentes, mostra a língua, entorna copos, e abraça-se com amigas.
Na internet, ela até faz sarcasmos sobre a língua presa do pai, de quem é filha mimada. Meses atrás, os Kirchners ordenaram à jovem que suspendesse o fotolog. Mas, a jovem trocava os endereços do fotolog com intensa freqüência, de forma a despistar seus pais. Ela encerrava a página do fotolog e na seqüência a reabria sob outro nome. A primeira página, que suscitou interpretações políticas sobre o que ela pensava sobre o governo de seu pai foi ¨Banana Republic¨.
Outra especulação é que em vez de referir-se à uma república bananeira ela somente aludia à grife de igual nome. Outro nome que colocou, satirizando a língua presa do pai (que costuma pronunciar o ¨s¨ com um chiado, como se fosse ¨sh¨), foi ¨Sheishiento pesho¨ (¨Seiscentos pesos¨, valor que seu pai havia citado dias antes em um discurso, embora com a grafia de acordo com a peculiar pronúncia paterna).
Na época da posse de sua mãe (o único caso na História mundial de uma presidente eleita nas urnas que sucede ao próprio marido, também eleito), emplacou sua ironia com as palavras ¨Dinastia K¨. Furiosa, segundo os comentários da imprensa argentina, Cristina Kirchner disse à filha que o fotolog deveria acabar. Florencia recusou-se. A briga durou semanas. Cristina, finalmente rendeu-se. ¨Tá bom! Faz o que quiser!¨, exclamou a presidente à filha, segundo a revista ¨Notícias¨.
O fotolog de ¨Florkey¨ (abreviatura, tal como pronunciada em inglês, de Florencia K) chamou a atenção da mídia argentina, da revista americana Time, e de milhares de adolescentes argentinos, que seguem a vida da ¨primeira-filha¨ por suas fotos (muitas delas, de festas com as amigas na residência de Olivos) e breves comentários. Ali, autodefine-se como ¨histérica e mimada¨.
Durante a posse de sua mãe, em dezembro passado, Florencia despertou intensa atenção, pois estava 10 quilos mais magra e vestia-se com estilo. A imagem da adolescente rechonchuda e sem charme que mostrava na posse do pai, quatro anos e meio antes, havia ficado enterrada no passado. Neste verão, ousou ostentar biquínis de prestigiadas marcas locais. Os rapazes deixam-lhe mensagens de amor no fotolog. As garotas, recados de admiração.