País aceita imposição da UE contra carne brasileira, diz ministro 16/02/2008
- Rodrigo Vargas - Agência Folha
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, disse ontem que o Brasil vai aceitar o limite imposto pela União Européia de 300 propriedades rurais habilitadas a vender carne bovina para o bloco.
Stephanes defendeu a ¨reabertura do diálogo¨ e disse que o ideal era habilitar de 4.000 a 5.000 propriedades.
A exportação de carne brasileira à UE está sob embargo desde o dia 1º. A suspensão das compras ocorreu logo após o Brasil encaminhar uma lista com 2.681 propriedades rurais habilitadas a vender bois rastreados do nascimento ao abate. A UE reagiu, exigindo uma lista de, no máximo, 300.
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Anteontem, em Bruxelas, em uma nova tentativa de negociação, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Inácio Kroetz, entregou uma nova relação de fazendas, mas não houve acordo.
Em visita a uma feira agrícola em Maracaju (MS), Stephanes admitiu que a proposta não havia sido aceita. ¨Nós vamos ter de aceitar as 300¨, disse, num recuo em relação ao que havia afirmado anteriormente.
Em reunião no Conselho Superior de Agronegócio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) no início da semana, o ministro Reinhold Stephanes, disse que a relação de propriedades em conformidade com as exigências do UE deveria ficar ao menos entre 500 e 600 fazendas.
Em São Paulo, o ministro insistiu em que a lista mínima tivesse mais que o limite de 300 propriedades imposto pela UE. ¨São necessárias de 3.000 a 5.000 fazendas para haver densidade para exportar¨, disse. ¨Com 300, não se enche nem um contêiner¨, afirmou, na reunião com empresários.
Em Mato Grosso do Sul, o ministro defendeu, porém, a ¨reabertura do diálogo¨ e a ¨reconstrução¨ das relações com o bloco econômico.
¨O ideal, até mesmo para que seja possível atender à demanda dos países da União Européia, é que tenhamos de 4.000 a 5.000 propriedades habilitadas¨, disse o ministro.
Para cumprir esse objetivo, segundo Stephanes, será preciso remunerar melhor os produtores que cumprirem as normas da rastreabilidade.
¨Os produtores terão de receber mais vantagens para cumprir o que é exigido¨, disse.
Para o ministro, o país errou principalmente ao fechar acordo em relação às normas de rastreamento do rebanho bovino acatando todas as exigências dos europeus.
¨Podemos dizer que nossa maior falha foi aceitar as regras do jogo tal como nos foram colocadas pela União Européia. Lá a rastreabilidade é fundamental, em razão da doença da vaca louca, que é fatal. Não temos nenhuma doença fatal em nosso rebanho. Então não haveria a necessidade do rigor que houve¨, afirmou Stephanes.
Falhas
Reinhold Stephanes voltou ontem a reconhecer que o Brasil descumpriu o acordo firmado com a União Européia sobre o controle de origem do gado abatido para produzir para exportação ao bloco econômico.
O ministro da Agricultura negou, no entanto, que tenha havido fraudes no sistema de rastreamento brasileiro, o Sisbov, que conta com aproximadamente 10 mil propriedades cadastradas para a exportação.
Segundo ele, o que houve foram ¨falhas¨, em razão do que qualificou como ¨exigências burocráticas¨. ¨Houve uma dificuldade normal em cumprir 25 exigências, sendo muitas delas burocráticas e desnecessárias. Não podemos chamar isso de irregularidade¨, afirmou o ministro.
¨Nesse processo, muita gente falhou, incluindo aí os frigoríficos, as certificadoras, as propriedades rurais e o próprio ministério¨, disse Stephanes.
Anteontem, após participar de reunião na Comissão de Agricultura do Senado, o ministro da Agricultura já havia afirmado que a carne de bois não-rastreados foi exportada.
¨Tenho certeza que frigoríficos exportaram para a União Européia animal rastreado e não-rastreado. No decorrer deste ano, esse fato foi verificado¨, disse, na reunião com parlamentares no Congresso.
Antes, em São Paulo, havia dito ser ¨claro¨ que o veto contra o Brasil ¨é uma vitória dos pecuaristas irlandeses¨.