Farc negociaram US$ 300 milhões com Chávez, diz Colômbia 03/03/2008
- Claudia Jardim - BBC
O chefe da Polícia Nacional da Colômbia, general Óscar Naranjo, disse nesta segunda-feira que documentos encontrados em um laptop das Farc sugerem que o grupo teria negociado um pagamento de US$ 300 milhões com o governo da Venezuela.
¨Há um pagamento negociado pelas Farc junto ao governo do presidente Chávez de US$ 300 milhões para apoiar a causa terrorista¨, disse Naranjo em entrevista coletiva em Bogotá.
A informação, segundo Naranjo, estaria no computador pessoal do líder das Farc Raúl Reyes, morto no sábado pelo Exército colombiano em uma operação em território equatoriano.
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Naranjo não deixou claro se tem alguma informação sobre se o grupo teria ou não recebido o dinheiro.
¨Aliança¨
O diretor da Polícia Nacional da Colômbia disse que essa e outras informações do computador de Reyes mostram uma ¨aliança¨ entre o governo venezuelano e a guerrilha.
De acordo com Naranjo, também foi encontrada uma carta em que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, agradece a Raúl Reyes uma ajuda de 100 milhões de pesos (o equivalente a US$ 50 mil).
O dinheiro teria sido recebido por Chávez em 1992, quando o líder venezuelano esteve preso, antes de chegar ao poder, após uma fracassada tentativa de golpe de Estado.
O governo colombiano disse que, em um dos documentos, as Farc dizem que Chávez enviaria algumas ¨cartucheiras velhas¨, que, na interpretação de Óscar Naranjo, significam fuzis.
¨Essas cartucheiras em nosso interpretação significam fuzis¨, disse Naranjo. ¨Esses documentos não somente levam a uma implícita proximidade, mas também a uma aliança armada entre as Farc e o governo da Venezuela.¨
O general também afirmou que as Farc teriam tentado comprar 50 quilos de urânio, sem, no entanto, explicar se o negócio foi concretizado.
No domingo, a Polícia Nacional da Colômbia já havia acusado um alto funcionário do Equador de manter vínculos com a guerrilha.
¨Mentiras¨
Em Caracas, as acusações foram negadas.
O vice-presidente, Ramón Carrizales, disse que os venezuelanos ¨estão acostumados às mentiras do governo colombiano¨.
¨Agora vão inventar qualquer coisa para tentar sair (da situação) de violação que fizeram no território equatoriano¨, afirmou Carrizales.
O crise na região andina, que envolve a Colômbia, Equador e Venezuela, teve início no sábado, quando o Exército colombiano atacou um acampamento das Farc em território equatoriano e matou um grupo de guerrilheiros.
A ação que também resultou na morte de Raúl Reyes, considerado o número 2 das Farc, gerou uma crise diplomática sem precedentes: o presidente do Equador, Rafael Correa, expulsou o embaixador colombiano de Quito e o presidente venezuelano fechou sua embaixada em Bogotá.
Ambos presidentes reforçaram militarmente a fronteira com a Colômbia.
A incursão militar colombiana no Equador ocorreu três dias após a guerrilha ter libertado quatro ex-congressistas colombianos seqüestrados.
O governo da Colômbia solicitou à Organização de Estados Americanos (OEA) ¨uma missão de acompanhamento¨ para averiguar a veracidade dos conteúdos presentes nos documentos encontrados pela Polícia Nacional colombiana.
Rafael Correa também convocou o Conselho Permanente da OEA e da CAN (Comunidade Andina de Nações) para mediar a crise.