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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Tráfico de drogas desafia estratégias de segurança
11/03/2008 - Denize Bacoccina e Pablo Uchoa - BBC

A América do Sul tem como maior desafio na área de segurança o tráfico de drogas, e seu combate exige ações conjuntas e ¨solidárias¨ dos países mais fortes economicamente.

Essa é a avaliação do ministro da Justiça, Tarso Genro, para quem a recente ação colombiana contra as Farc abriu um ¨precedente perigoso¨ no continente.

¨Os principais problemas de segurança na região estão vinculados ao tráfico de drogas, aos desequilíbrios sociais regionais, que implicam desequilíbrios entre Estados, e à precariedade ainda da integração econômica na América Latina¨, disse o ministro, em entrevista à BBC Brasil.


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Segundo Genro, os países mais influentes da América Latina têm tratado desses problemas com o Brasil, como parte do processo de integração regional.

¨O processo de integração econômica está melhorando, há um esforço muito grande do Brasil na constituição do Mercosul e as demais questões são abordadas de maneira diferenciada de acordo com o potencial econômico, financeiro e até de organização do Estado dos diferentes países.¨

Além de ações coordenadas, a busca por mais segurança na região implica investimentos em larga escala e, segundo Genro, esses gastos têm de ser divididos por vários países.

¨Eu acho que Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, Chile, os países mais fortes economicamente, devem buscar relações solidárias de liderança, para a estabilidade da América Latina e o ataque às questões mais graves de segurança¨, afirmou.

¨O Brasil, pelo seu potencial econômico, pelo seu território, pelo seu desenvolvimento industrial e razoável nível de organização do seu Estado, pode ocupar uma posição de liderança neste grupo, mas não de tutoria, porque a liderança entre países supõe uma certa visão de protetorado.¨

¨Erro¨ da Colômbia

As tentativas de cooperação na área de segurança sofreram um duro golpe com a recente crise entre Equador e Colômbia.

Tarso Genro chama de ¨precedente perigoso¨ a ação militar colombiana em território equatoriano contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Mas o ministro diz que os outros países sul-americanos não poderiam isolar o governo colombiano por causa do incidente.

¨O erro que a Colômbia cometeu já foi registrado pela própria OEA, mas mesmo assim não se pode levar a Colômbia a um isolamento que também desestabilizaria a região¨, avalia.

O especialista Amado Luiz Cervo, professor emérito da Unb e professor do Instituto Rio Branco, considera que a recente crise representou um obstáculo à integração regional, mas não capaz de interrompê-la.

¨A América do Sul está construindo uma zona de paz. A crise entre Colômbia e Equador é um obstáculo ao avanço do processo de integração na América do Sul. Atrasa a construção da zona de paz, mas ela continua em construção. Um sinal foi a decisão da OEA. Resolveu-se pacificamente um problema que parecia extremamente grave.¨

Cervo considera que a ação colombiana foi influenciada pela ideologia da guerra de antecipação, defendida pelo governo dos Estados Unidos para justificar a invasão do Iraque, em 2003.

¨Tem uma inspiração ideológica, geopolítica, americana. Havia uma condenação geral a esta doutrina na região. Aqui na América Latina prevalece o princípio da não-intervenção e da auto-determinação. Foi em nome da não-intervenção que os países da região se opuseram à guerra no Iraque.¨

Amado Cervo acredita que a busca pela segurança no continente exige políticas muito diferentes das adotadas no passado.

¨A segurança na América do Sul não depende mais de ações militares. Ela tem outras dimensões, que vão além disso. A América do sul transitou de uma segurança centrada no Estado e em ações militares para uma segurança que age ou reage diante de ameaças bem mais difusas como o narcotráfico, o terrorismo, a insegurança humana, a ingovernabilidade dos países¨, afirma.

¨Esses fenômenos não têm mais solução no esquema tradicional. Há uma transnacionalização da questão da segurança.¨

Narcotráfico e a Amazônia

Tal transacionalização implica novos desafios, especialmente para os países que compartilham a região da Amazônia, onde o narcotráfico resiste a ações de repressão das forças de segurança.

¨Com a globalização, você tem um aumento do comércio e do trânsito de pessoas, e é óbvio que dentro disso existem os aproveitadores que querem fazer coisas ilícitas”, diz o delegado Mauro Spósito, coordenador da Polícia Federal para as fronteiras da Colômbia, do Peru e da Bolívia.

¨Mas esse não é um problema apenas desse ou daquele país, é um problema de todos. Afeta a todos os países em dois sentidos: na saúde da população e também na economia, pois esse dinheiro ilícito fere a economia de todos os países.¨

O Brasil é normalmente citado como lugar de passagem da droga colombiana que viaja à Europa. Porém analistas ouvidos pela BBC Brasil destacam também a importância do país como consumidor do produto, fornecedor de insumos químicos e receptor de dinheiro sujo gerado pela atividade.

¨Cansei de ver tambores de éter de 50 litros que na verdade só continham dez, e o resto era água. Onde estavam os outros 40 litros?¨, disse à BBC Brasil o ex-titular da Secretaria Antidrogas (Senad) Walter Maierovitch.

¨O corredor das drogas é de duas mãos: em um sentido, a droga passa pelo Brasil para a Europa; a via contrária são os insumos químicos (necessários para a fabricação de cocaína), que a Colômbia não produz.¨

  

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