Os preços das commodities e o Brasil 21/03/2008
- O Estado de S.Paulo
Se a queda dos preços das commodities se prolongar e se acentuar, haverá, sem dúvida, conseqüências para o desempenho da economia brasileira. Mas há que analisar com muito cuidado quais podem ser as conseqüências negativas e também as positivas.
É preciso, antes de tudo, analisar os fatores que contribuíram para um aumento que alguns analistas consideram excessivo. O principal foi, sem dúvida, a queda do dólar em relação a outras moedas-chave, como, por exemplo, o euro.
No mercado internacional, as commodities têm seus preços fixados na moeda norte-americana - na medida em que esta se desvaloriza, os vendedores procuram manter o poder aquisitivo das commodities que exportam aumentando seus preços.
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Paralelamente, registrou-se um forte aumento da demanda por commodities com a entrada, no mercado mundial, de dois países de grande população com poder aquisitivo em elevação: a China e a Índia.
Ora, no momento deste aumento explosivo da demanda, registrou-se redução da oferta, seja em razão de condições climáticas (com o trigo, por exemplo), seja pelo desvio da produção para outras finalidades (caso do milho americano para a produção de etanol), seja, finalmente, pelo aumento do custo de produção (combustíveis mais caros).
Dos fatores que estão impulsionando a alta de preços, só as condições climáticas podem mudar, e uma redução da demanda pode aparecer por causa da crise nos EUA e das suas conseqüências em outros países, mas será limitada. Isto é muito positivo para o Brasil onde, no ano passado, as exportações de produtos básicos (nem todos são commodities) representaram 32% do total de exportações.
Mas a queda dos preços das commodities, caso se prolongue muito, afetaria a nossa balança comercial que já apresenta forte retração. Por enquanto, essas quedas de preços no mercado internacional ocorrem nas cotações de mercado futuro e, na grande maioria dos casos, as vendas estão vinculadas a contratos de longo prazo, cujo preço está travado (exemplo, o minério de ferro).
O aumento dos preços das commodities desencadeou pressões inflacionárias, inclusive no Brasil. O recuo dos preços terá efeito contrário e poderá afastar medidas monetárias que seriam altamente negativas. Se o dólar voltar a se recuperar, isso teria conseqüências positivas para o Brasil, reduzindo as operações especulativas, embora as importações fiquem mais caras.