Um traço constante do governo Luiz Inácio Lula da Silva tem sido a sua enorme capacidade de tropeçar nas próprias pernas. Possuem DNA petista os fios que detonaram os mais graves casos de corrupção e escândalos políticos desde que o PT chegou ao poder central.
Quando tudo vai bem para Lula, com notícias seguidas de popularidade alta, a oposição precisa apenas esperar que alguém do governo ou do PT resolva dar um tiro no pé. Foi assim com Waldomiro Diniz, José Dirceu, Antonio Palocci, Delúbio Soares...
Agora, o problema apareceu na Casa Civil da poderosa Dilma Rousseff. Por ora, estacionado na secretaria executiva, ocupada por Erenice Guerra, a número 2 de Dilma.
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Por mais que o governo negue que tenha feito um dossiê contra adversários, não dá mais para acreditar nisso. É fato que informações secretas sobre o governo FHC foram devidamente documentadas por ordem de pessoa próxima à ministra da Casa Civil. A papelada detalha despesas da ex-primeira-dama Ruth Cardoso e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ora, a semelhança com o caseirogate é evidente. O poderoso Antonio Palocci Filho caiu do Ministério da Fazenda em março de 2006 porque houve o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Palocci nega até hoje participação no vazamento,
O Palácio do Planalto montou operação para blindar Dilma. Evitou sua convocação para depor na CPI dos Cartões Corporativos enquanto escalou o ministro José Múcio (Relações Institucionais) para dizer que a ministra era ¨inocente¨ e que não tinha ¨nada a ver com isso¨. Por ora, a ação e o discurso do governo são de preservação de Dilma.
No entanto, quem não se lembra das versões que davam conta de que Dirceu era poderoso demais para ser abandonado por Lula ou de que Palocci seria indispensável para evitar uma catástrofe econômica? Certa inabilidade para lidar com o poder e uma dose de arrogância contribuíram para minar os dois políticos.
Até o ¨Dilmagate¨, como a oposição já apelidou o atual imbróglio, ela era a principal aposta de Lula para ser candidata a presidente em 2010.
Nos próximos capítulos, veremos qual será o destino da ministra: o mesmo dos poderosos que deixaram o governo ou a exceção que escapará a uma regra que Lula adotou para sobreviver politicamente?
Há um destino intermediário. Permanecer enfraquecida no governo, exatamente o que aconteceu com José Dirceu após o escândalo Waldomiro Diniz.
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*Kennedy Alencar é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília