Questão ambiental provoca racha no Ministério Lula 10/04/2008
- Luciana Otoni - Folha de S.Paulo
Os ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Reinhold Stephanes (Agricultura) expuseram ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, o racha do governo na definição das medidas de combate ao desmatamento na Amazônia e punição aos infratores.
Stephanes propôs a redução da compensação do passivo ambiental. Ele defendeu uso econômico de 50% das terras desmatadas que forem recuperadas. Segundo ele, enquanto perdurar a regra atual de reflorestamento de 80% da área degradada para aproveitamento de 20%, como prevê o Código Florestal, agricultores e pecuaristas não irão se interessar pela recuperação.
As comissões de Agricultura e de Meio Ambiente da Câmara debatem um projeto de lei que prevê a recuperação de até 30% de áreas desmatadas na Amazônia com dendê e outras plantas de uso comercial. Ambientalistas chamam o projeto de ¨floresta zero¨, pois entendem que ele legaliza o desmate.
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Stephanes voltou a criticar o monitoramento feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre o avanço do desmatamento, avaliando que nesse tipo de debate ¨as radicalizações são fortes¨.
Endurecimento
Nas quatro horas de duração da audiência, Marina Silva foi duramente criticada por deputados do Pará, Rondônia e Mato Grosso, que acusaram o governo de endurecer as punições sem apresentar contrapartida em ações públicas.
Stephanes reiterou que a produção de grãos cresceu 140% nos últimos 16 anos com uma expansão de 23% da área plantada. Segundo ele, a produção agrícola pode se expandir por mais 15 anos sem que seja necessário derrubar florestas.
¨Tenho dificuldade em dizer em que direção iremos caminhar. E quando digo que não vai ser preciso derrubar árvore, eu e meu corpo técnico falamos isso com convicção. A dificuldade é chegar a isso (...) por incapacidade, falta de bom senso e uso da racionalidade em se tratar desse assunto.¨
A ministra reagiu. ¨Ficar nesse discurso gelatinoso, diluído, vai fazer com que a gente passe os próximos 25 anos colhendo os mesmos resultados.¨, disse. ¨Digo com franqueza: o desmatamento cresceu 10% nos últimos seis meses. Quem é contra pode continuar sendo contra, mas com esse combate ganha o país, a agricultura e ganha a governança ambiental brasileira. As pessoas podem continuar com discursos e críticas porque o foco é não permitir que se perca três anos de governança ambiental¨, avisou a ministra.