Blanca Ovelar tenta ser a ¨nova cara¨ do Partido Colorado 17/04/2008
- Marcia Carmo - BBC
Atrás do candidato da oposição nas pesquisas eleitorais, a governista Blanca Ovelar diz que quer ¨promover mudanças¨ e tem adotado bandeiras tradicionalmente de esquerda em sua campanha para a Presidência do Paraguai.
Um de seus desafios é convencer um eleitorado que aparentemente deseja renovação de que ela é capaz de representar mudanças, apesar de pertencer ao Partido Colorado, que está há 61 anos no poder.
¨O Partido Colorado tem valores doutrinários e princípios muito fortemente arraigados no coração do povo paraguaio, e a mudança pode ser feita a partir de dentro¨, disse a candidata em entrevista nesta quarta-feira, em Assunção.
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Apesar da defesa dos ¨valores colorados¨, Ovelar faz questão de tentar se afastar da imagem do partido tradicionalmente associado ao ditador Alfredo Stroessner, que ficou 35 anos no poder, de 1954 a 1989.
¨O nome do Partido Colorado foi usurpado por Stroessner e seus comparsas. Fui vítima da ditadura, meu pai foi um perseguido político por suas tendências socialistas. Foi preso muitas vezes. Não tenho nada a ver com essa história nefasta¨, disse a candidata governista.
¨Machismo¨
Um dos argumentos de Ovelar para mostrar que representa uma novidade é o fato de ter conseguido a indicação como candidata à Presidência em um partido que, segundo ela, é ¨tradicionalmente machista¨.
¨Houve muita resistência¨, disse Ovelar, uma ex-jogadora de basquete, com 1m82cm de altura, ex-professora primária, ex-diretora do MEC paraguaio e ministra da Educação e Cultura entre 2002 e 2007.
Casada e mãe de três filhos, ela chegou à política com apoio do atual presidente paraguaio, Nicanor Duarte Frutos.
Ovelar conquistou a candidatura numa disputa apertada, que levou seu adversário, o ex-vice-presidente Luis Castiglioni, a acusar fraude no pleito.
Se for eleita, Blanca Margarita Ovelar de Duarte será a primeira mulher a ocupar a Presidência do Paraguai.
“A minha missão será a de terminar, de uma vez por todas, com a pobreza, o subdesenvolvimento e a ignorância e avançar para o desenvolvimento econômico e social”, diz a candidata em sua página oficial na internet.
Sua plataforma de campanha prevê medidas como maior industrialização do país, apoio à formação de pequenas cooperativas para atender aos que estão na economia informal e “subsídios em dinheiro” para mulheres pobres com mais de 60 anos.
Fernando Lugo
Ovelar costuma criticar a candidatura de seu principal opositor, ex-bispo católico Fernado Lugo, que lidera as pesquisas eleitorais no Paraguai com um discurso em defesa da reforma agrária e da inclusão social.
A candidata governista considera as idéias do adversário “populistas”. “Se eu tenho que responder pelos erros do Colorado, imagine Lugo com a Igreja”, disse Ovelar no seu discurso de encerramento de campanha, na noite desta quarta-feira, em um comício em frente ao Congresso Nacional.
Ao contrário de Ovelar, Lugo formou uma frente de centro-esquerda, a Aliança Patriótica para a Mudança (APC, em espanhol), que inclui o também tradicional Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) e movimentos sociais de esquerda.
Como Ovelar, essa é a primeira vez que Lugo se candidata a um cargo político. E uma de suas principais bandeiras é a revisão do contrato de Itaipu, assinado entre Brasil e Paraguai em 1973.
Na entrevista, em um hotel em Assunção, Ovelar respondeu com cautela quando questionada sobre o assunto.
“Vamos convocar uma comissão internacional para que faça um estudo sobre a verdade deste assunto, e aí sim poderemos falar com as autoridades brasileiras com mais precisão”, disse a candidata.
Ovelar elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que ele tem demonstrado “maior abertura” em relação a seus antecessores frente às demandas do Paraguai.
Segundo ela, o Brasil é o principal destino da produção paraguaia. No entanto, afirmou sem dar detalhes, que é preciso uma relação com “mais justiça” entre um país grande e outro com apenas 6 milhões de habitantes – o Paraguai.