Interesses criam reação exacerbada à produção de etanol 19/04/2008
- Cláudia Ribeiro - estadao.com.br
A polêmica sobre o impacto da produção de etanol sobre o preço dos alimentos é exacerbada por um conjunto de interesses internacionais e domésticos. Esta é a opinião do professor Antonio Márcio Buainain, do Núcleo de Economia Agrícola da Unicamp. Ele enumera estes interesses e afirma que o ¨Brasil, infelizmente, vai pagar parte da conta desta guerra de interesses¨.
Do lado externo, Buainain diz que os países desenvolvidos nunca mostraram interesse pelo desenvolvimento dos biocombustíveis, mas, com o crescimento econômico mundial e a alta do preço do petróleo, isso mudou. ¨Os Estados Unidos, por exemplo, investiram pesado no programa de biocombustíveis em 2007. Isso foi um dos principais motivos para a forte alta dos alimentos, já que naquele país, a produção de cana e milho para alimentação deu lugar à produção para o etanol¨.
Segundo o professor da Unicamp, isso não acontece no Brasil, pois o País tem condições agrícolas para manter a produção de grãos nas duas frentes. ¨Portanto, dizer que o Brasil contribuiu para a alta dos alimentos, por causa do etanol, é errado. Aqui, diferentemente dos Estados Unidos, isso não é problema¨, avalia.
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Buainain cita ainda o protecionismo aos agricultores na Europa, o que acaba pressionando para cima o preço dos alimentos. Isso porque países que poderiam produzir mais para exportação e, com isso, aliviar a alta da inflação, não vão adiante, porque não conseguem competir com o preço dos produtos de países que concedem subsídios a seus agricultores.
Em relação ao cenário interno, o professor da Unicamp aponta os ambientalistas e algumas organizações como responsáveis pela ¨reação sem medida¨. Ele afirma que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é ¨contra o agronegócio por princípio¨. ¨Não há fundamento. A produção de alimentos no Brasil está crescendo¨, destaca.
Saídas possíveis
O professor da Unicamp afirma que o Brasil vai ter que enfrentar a polêmica de duas maneiras. Segundo ele, o governo vai ter que mostrar que não reduz a produção de alimentos por conta dos biocombustíveis. E, além disso, não poderá dar motivos para ataques à agricultura brasileira.
¨O caso da carne brasileira é um exemplo disso. Não podemos dar margem a este tipo de problema¨, afirma. O professor se refere ao embargo dos europeus à carne produzida no Brasil. O comércio já foi reativado, mas o desgaste para a imagem da pecuária brasileira trouxe conseqüências para o agronegócio.
Críticas
Buainain criticou ainda os programas de ajuda alimentar, que impedem o desenvolvimento da agricultura nos países mais pobres. ¨Isso acalenta a dependência destas nações em relação aos países mais desenvolvidos e não contribui em nada para reduzir a pressão de alta sobre os alimentos¨, afirma.