Lula vê ofensa do STF; guerra Serra x Aécio tende a esquentar 27/04/2008
- Kennedy Alencar - Folha Online
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se sentiu ofendido pelos discursos do novo presidente do STF, Gilmar Mendes, e do ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, pronunciados na quarta-feira (23/05) durante solenidade em Brasília.
Segundo auxiliares, Lula julgou desrespeitoso o tom dos discursos, já que ele não pôde se manifestar devido ao rito da posse do novo presidente do Supremo.
Mais: Lula considerou indelicados os discursos porque também foram feitos na presença de outros ex-presidentes -- sobretudo porque Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, estava no ato. Lula e FHC trocam farpas freqüentemente.
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Lula se queixou das críticas de Mendes ao excesso de MPs (medidas provisórias) e aos movimentos sociais. Em comentário com ministros, o presidente disse que, quando ele faz algum reparo sobre os outros poderes, a imprensa o critica fortemente. No entanto, a mídia não teria achado deselegante Mendes atacar o excesso de MPs editadas pelo Executivo.
O presidente não gostou do comentário feito por Mendes de que esse excesso de MPs paralisa o Congresso e ¨embaraça o processo democrático¨. Um auxiliar do presidente lembrou que Mendes foi advogado-geral da União no governo FHC. Na gestão do tucano, MPs também eram editadas rotineiramente. Mendes assumiu uma cadeira no STF em 2002, indicado justamente por FHC.
Outro ponto que desagradou ao presidente foi uma citação de Mendes à ação dos movimentos sociais, como o MST. O presidente do STF cobrou ¨firmeza por parte das autoridades constituídas¨.
Lula vestiu a carapuça. Disse a auxiliares que não seria algoz dos movimentos sociais e que dialogaria com eles, mesmo considerando que ocorrem exageros. Lula, por exemplo, já pediu aos dirigentes do MST que evitem invadir instalações de empresas. Mas não tem obtido sucesso.
O presidente teve de ser convencido por auxiliares a não rebater as críticas, mas esses mesmos assessores avaliam que o temperamento de Lula pode levá-lo a dar o troco em breve, quando discursar publicamente.
No discurso de Celso de Mello, Lula também viu, segundo relato de auxiliares, ¨indiretas¨ sobre respeito à democracia e à divisão dos Três Poderes. Recentemente, o petista se queixou das manifestações de outro ministro do STF, Marco Aurélio de Mello, alegando que ele se aliava à oposição.
Reflexos em 2010 da eleição paulistana
O aval do governador de São Paulo, José Serra, ao acordo entre o PMDB de Orestes Quércia e o DEM de Gilberto Kassab é um tento do tucano paulista na luta contra o colega de Minas, Aécio Neves. Pensando na sucessão de 2010, Serra costura o apoio de uma seção importante do PMDB.
No entanto, Aécio ainda tem ao seu lado a grande maioria dos caciques do PMDB. Não é um Itamar Franco que, se entrar no partido, não conseguirá disputar a Presidência. O PMDB não deu legenda a Itamar em 1998.
Aécio seria um candidato muito mais competitivo. E o PMDB fala sério quando diz que deseja lançá-lo à Presidência pelo partido. Seria uma forma de deixar de satélite de PT e PSDB. Se Aécio for para o PMDB, ele obteria a candidatura.
O ousado lance de Serra para vitaminar Kassab tende a agravar o racha no PSDB paulista. Geraldo Alckmin se sente agora obrigado a ir até o fim.
Se for e se vencer, o apoio de Quércia a Kassab terá rendido a Serra uma inimigo muito ferido. Alckmin, que já não se relaciona bem com Serra, atuaria para prejudicá-lo muito na disputa contra Aécio pela candidatura presidencial do PSDB. Alguns tucanos perguntam se o esforço pró-Kassab vale tanto risco assim.
O mais prudente teria sido Serra conquistar Alckmin, levando Kassab a desistir. Mas o governador paulista preferiu outro caminho...
A aproximação entre Serra e Quércia também pode facilitar o discurso para uma eventual debandada de tucanos para o PMDB. Afinal, os tucanos saíram do PMDB por causa de Quércia. Se o governador paulista está de mãos dadas com ele, Aécio, Alckmin, Tasso Jereissati e cia. poderiam mudar de canoa sem grande constrangimento.
Essa guerra entre Serra e Aécio acabou de começar. Terá ainda muitos lances. E tende a esquentar daqui em diante, com algumas pausas estratégicas.
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Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília