Com recursos adicionais de R$ 914 milhões, a serem aplicados até 2010, a pesquisa agropecuária voltará a dispor de um orçamento mais compatível com as necessidades do País e comparável com o que teve entre 1980 e 2000. A maior parte dos recursos - R$ 650 milhões - irá para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instituição que simboliza o progresso do setor agropecuário brasileiro nos últimos 35 anos, mas que, no início do primeiro governo Lula, teve sua credibilidade e sua competência científica seriamente ameaçadas pelo loteamento político-partidário de seus cargos de direção. Outros R$ 264 milhões serão destinados a órgãos estaduais de pesquisa.
Ao denominar esse apoio à pesquisa agropecuária de PAC da Embrapa, o governo não esconde seu objetivo político-eleitoral. Quer dar mais visibilidade ao programa que pretende ver transformado em seu grande carro-chefe nas campanhas municipais deste ano e, se tudo der certo para ele, também em 2010, ano de eleições estaduais e federal. Neste caso, pelo menos, quaisquer que sejam os objetivos políticos do governo, o resultado será benéfico para o País.
Criada em 1973 para apoiar o desenvolvimento do agronegócio, por meio da geração e transferência de conhecimentos e tecnologias, a Embrapa teve papel fundamental na incorporação dos cerrados à agricultura brasileira. Pesquisas realizadas pela empresa permitiram a adaptação da soja às nossas condições, tornando o cerrado responsável por 40% da produção de grãos do País e o Brasil o segundo maior produtor de soja do mundo.
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Também graças, em boa parte, a pesquisas da Embrapa, a produção de carne bovina e suína foi multiplicada por 4 e a de frango aumentou 18 vezes. A de leite passou de 7,9 bilhões de litros em 1975 para 25,4 bilhões de litros em 2006 e a produção de hortaliças cresceu de 9 milhões para 17,5 milhões de toneladas entre 1980 e 2006 (aumento de 94%), enquanto a área cultivada passou de 700 mil para 771,4 mil hectares (aumento de apenas 10%).
Na área internacional, a Embrapa mantém 68 acordos bilaterais e dispõe de laboratórios nos Estados Unidos e na França. É essa cooperação que permitirá à empresa, de acordo com reportagem do jornal Valor, contar, em seu banco de espécies, com mais 40 mil amostras cedidas pelos Estados Unidos. Com essas, seu repositório de espécies vegetais terá 150 mil amostras, o quarto maior do mundo, atrás dos EUA, da China e da Alemanha.
Esse papel essencial para o desenvolvimento da agricultura brasileira foi seriamente ameaçado no início do primeiro governo Lula, quando a Embrapa foi dirigida por militantes do PT e sindicalistas ligados ao partido. Mais da metade dos chefes de centros de pesquisa foi substituída, para que, como dizia o presidente da empresa, Clayton Campanhola, ¨as atividades de pesquisa e desenvolvimento (fossem) direcionadas aos agricultores familiares, assentados da reforma agrária e pequenos empreendedores rurais¨, abandonando-se o grande capital que a Embrapa tinha acumulado, que era sua produção científica, da qual resultou o notável desenvolvimento do agronegócio.
Só depois de dois anos de enfrentamento contra os petistas e sindicalistas e de ameaçar deixar o cargo - o que fez depois, por outros motivos -, o então ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, conseguiu obter do presidente Lula autorização para mudar toda a diretoria da Embrapa, desde então chefiada pelo pesquisador Sílvio Crestana.
A empresa dispõe hoje de orçamento de R$ 1,17 bilhão. Com os recursos adicionais, a Embrapa vai acelerar as pesquisas de novas variedades - anualmente, ela lança de 50 a 60 variedades - e estudar problemas como mudanças climáticas e seus efeitos sobre a agricultura e agroenergia. Pretende, por exemplo, iniciar uma pesquisa para a produção de etanol a partir de celulose. Para isso, precisará de pesquisadores. Hoje, a empresa tem 10,2 mil funcionários. Com os novos recursos, deve contratar 1,6 mil, metade dos quais pesquisadores, para substituir os que se aposentam e ampliar seus quadros.