Produção recorde e inflação 12/05/2008
- O Estado de S.Paulo
A mais recente estimativa da safra de grãos de 2007/2008 traz números ainda melhores que os das estimativas anteriores, que já apontavam para novo recorde de produção. Levantamento do IBGE indica que a safra de grãos deverá atingir 142,6 milhões de toneladas, 1,5% mais do que a estimativa feita em março, de 140,5 milhões de toneladas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que também realiza pesquisas regulares sobre a produção, tem uma estimativa de safra praticamente igual à do IBGE, de 142,03 milhões de toneladas. Se esse número for alcançado, a safra 2007/2008 será 7,2% maior do que a anterior, que até agora é a recordista.
As boas condições climáticas, com a melhor distribuição de chuvas, estão contribuindo para o aumento da produção. Mas, além de contar com o clima favorável, o agricultor continua a investir no seu negócio e a usar mais tecnologia, como vem fazendo há bastante tempo. É notável, nos últimos anos, o ganho de eficiência na agricultura brasileira graças à tecnologia. Dados do IBGE mostram que, de 1980 até agora, enquanto a área plantada aumentou cerca de 50%, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas cresceu mais de 150%. Esses números dão uma boa idéia do aumento do rendimento médio no período.
A soja, com produção prevista de 59,5 milhões de toneladas, deverá responder por 42% da safra brasileira. Em seguida vem o milho, com produção prevista de 57,8 milhões de toneladas, ou 40,7% do total.
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Para o trigo, a nova estimativa do IBGE é de uma produção de 4,6 milhões de toneladas, 20% maior do que a projetada em março, pois os produtores decidiram ampliar a área cultivada. Segundo o IBGE, no Paraná a área destinada pelos agricultores à cultura do trigo aumentou 20% em relação a março; em Mato Grosso do Sul, o aumento foi de 16,4%. Por causa das boas condições climáticas, haverá aumento também no rendimento médio. Entre os fatores econômicos que estimularam o aumento do plantio estão as restrições impostas pelo governo argentino às exportações de trigo - o que afetou o abastecimento do mercado brasileiro -, os baixos estoques internacionais, a elevação dos preços externos e a garantia do governo de preço mínimo.
A nova estimativa do IBGE para o arroz, de 12,0 milhões de toneladas, é apenas 0,3% maior do que a de março. Quanto ao feijão, o novo levantamento indica uma redução de 2,1% na produção da primeira safra, prevista em 1,7 milhão de toneladas, em conseqüência do excesso de chuvas e inundações em algumas áreas produtoras.
Os alimentos estão entre os fatores que mais impulsionam a inflação. Felizmente, o governo parece compreender que este é um fenômeno que não pode ser combatido com políticas de controle de preço ou de exportações. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e outros membros do governo entenderam que a alta dos alimentos no mercado interno é conseqüência do que ocorre no mercado mundial. Cabe ao governo procurar meios que estimulem a produção para garantir o abastecimento interno.
O que preocupa o governo no momento é a produção de trigo, milho, arroz e feijão, produtos que considera ¨sensíveis¨, por causa de sua importância na alimentação do brasileiro. Por isso, segundo o ministro da Agricultura, o governo começará a discutir uma política de estímulo à produção desses produtos. Essa política deve incluir crédito, garantia de preço mínimo para o período de comercialização e seguro rural. Stephanes justifica essa política tomando o feijão como exemplo. O preço considerado atraente para o produtor era de R$ 60 a saca, mas, no passado, caiu para R$ 35. O resultado foi a redução da produção. Escasso no mercado, nos últimos tempos o preço chegou a R$ 210 a saca.
Ainda que políticas de apoio e estímulo à produção sejam colocadas em prática agora, os resultados só surgirão a partir de fevereiro do próximo ano, quando estiverem sendo colhidas as lavouras que serão plantadas a partir de setembro. E também a safra 2008/2009, já prevê o ministro da Agricultura, será recorde, cerca de 5% maior do que a de 2007/2008, mantida a tendência observada nos últimos anos, de aumento de 1% a 1,5% na área plantada e no rendimento médio.