As provas contra Chávez 17/05/2008
- O Estado de S.Paulo
Nos últimos dias, o caudilho Hugo Chávez esteve mais belicoso do que nunca. Aproveitava qualquer pretexto para afirmar que os comprometedores documentos encontrados nos computadores do líder das Farc, Raúl Reyes - apreendidos pelos militares colombianos durante o ataque a um acampamento guerrilheiro no Equador -, não passavam de ¨mentiras e falsificações¨.
E desafiava: ¨Mostrem provas, não documentos¨ - como se documentos não fossem provas. Seu destempero chegou a tal ponto que acusou de ¨fascista¨ e ¨amiga de Hitler¨ a chanceler alemã Angela Merkel, que havia criticado governos populistas e afirmado que Hugo Chávez não é a voz da América Latina.
Não se pode considerar que tenha se excedido quando disse que o governo de Álvaro Uribe está tentando iniciar uma guerra contra a Venezuela, para que os Estados Unidos invadam seu país, porque isso já virou rotina em seus pronunciamentos.
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Era compreensível o nervosismo de Hugo Chávez. Aproximava-se o dia 15, data em que a Interpol publicaria o relatório da perícia realizada por técnicos forenses nos computadores de Raúl Reyes - e Chávez tinha culpa no cartório.
O secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, anunciou o que se esperava. Confirmou que os computadores apreendidos pertenciam a Raúl Reyes e que as informações e arquivos neles contidos são autênticos.
Não foram modificados, alterados ou eliminados e, assim, existem provas sólidas de que Hugo Chávez não apenas interferiu nos assuntos internos da Colômbia, como patrocinou, com apoio político, dinheiro e armas, um movimento que se sustenta com o narcotráfico e a extorsão e cujo objetivo é a derrubada de um governo democrático e legitimamente eleito pelas urnas.
A reação de Chávez foi patética. Classificou o secretário-geral da Interpol de ¨vagabundo internacional¨, disse que o anúncio do laudo pericial foi um ¨show de palhaços¨ e encarregou o ministro do Interior de rever a filiação da Venezuela à Interpol, sugerindo a criação de uma entidade paralela, articulada pela Alba, ou seja, pela Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua e Dominica.
O constrangimento de Chávez - se é que ele é capaz de se constranger por qualquer coisa - só não foi maior porque a sessão de debates da reunião de cúpula dos países da América Latina e Caribe e da União Européia, iniciada ontem, em Lima, foi fechada à imprensa.
Esse procedimento foi adotado depois que o rei Juan Carlos, da Espanha, mandou Chávez calar a boca na última cúpula ibero-americana.
Mas o fato é que, mesmo os governos que evitavam fazer críticas a Chávez, por afinidade ideológica ou conveniência política, agora terão de mudar de atitude.
Fala-se que o governo brasileiro manifestará reservadamente o seu desagrado com a situação. Se assim proceder, será um erro.
São públicas as provas documentadas de que Hugo Chávez infringiu todas as regras do convívio internacional, notadamente a que manda que um país não interfira nos assuntos internos de outro - uma cláusula pétrea da diplomacia brasileira.
E as transgressões de Chávez foram gravíssimas. Desde 2002 ele permitia que membros de seu governo mantivessem contato direto com comandantes das Farc. Mas em novembro do ano passado ele recebeu no palácio Miraflores o dirigente guerrilheiro Ivan Márquez, ou Luciano Marín.
Na reunião, segundo o relato de Ivan, ¨aprovou sem pestanejar¨ o pedido de US$ 300 milhões para a narcoguerrilha e discutiu um plano para receber na região venezuelana do Orenoco um carregamento de armas enviado para as Farc por traficantes australianos.
Antes disso, os representantes de Chávez haviam providenciado a entrega às Farc de foguetes antitanque e prometido fornecer peças para a fabricação de mísseis antiaéreos, bem como treinamento para a operação de foguetes num país do Oriente Médio.
Também o relacionamento das Farc com o governo equatoriano fica inquestionavelmente exposto. Não apenas Rafael Correa recebeu US$ 100 mil para sua campanha eleitoral, como o seu ministro da Defesa acertou ¨regras¨ para que as Farc freqüentassem o território equatoriano.
Em resumo, há provas suficientes para que o regime de Hugo Chávez seja afastado da comunidade interamericana e submetido a sanções severas.