Até dezembro, juro pode ultrapassar marca de 14% 02/06/2008
- Blog de Josias de Souza - Folha Online
Governo trabalha com a perspectiva de um ¨ciclo¨ de altas, por isso o presidente passou a falar em ¨remédio amargo¨. Vem daí também mudança na forma do ¨Fundo Soberano¨
O Copom (Conselho de Política Monetária) volta a se reunir nesta terça (3) e quarta-feira (4). Ao término da reunião, o Banco Central anunciará nova elevação da taxa de juros.
O mercado estima que o percentual de alta será de, no mínimo, 0,50 ponto percentual. O que, confirmando-se, elevaria a taxa Selic dos atuais 11,75% para 12,25%.
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Não será a última alta do ano. Informou-se a Lula o seguinte: o esforço para conter a inflação exigirá um “ciclo” de elevações da taxa de juros.
Em reserva, o governo estima que, além do ajuste de abril e da elevação desta semana, o BC poderá ser compelido a promover mais três ou quatro altas.
Receia-se chegar a dezembro com uma taxa oscilando entre 14,25% e 14,75%. Vem daí a menção que o presidente fez, na semana passada, ao “remédio amargo.”
Um “sacrifício” necessário, nas palavras de Lula, para evitar a volta da inflação. Sacrificou-se também o formato original do Fundo Soberano.
O fundo, a ser proposto em projeto de lei, destina-se agora a fazer uma poupança de R$ 13 bilhões. Do ponto de vista contábil, a economia adicional levará outro nome. Mas, na prática, é superávit fiscal, cuja meta passa de 3,8% para 4,3%.
Trata-se de vitória parcial do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na guerra não-declarada que trava com a equipe do ministro Guido Mantega (Fazenda).
O êxito de Meirelles é parcial porque, se dependesse só dele, nem haveria Fundo Soberano. Preferiria cortes generosos de despesas, convertidos não em poupança, mas em abatimento efetivo da dívida pública.
Entre quatro paredes, Meirelles diz que não lhe cabe senão zelar para que o BC faça a parte dele. Que, nesse instante, resume-se a resguardar a meta de inflação, fixada em 4,5% para 2008.
Meirelles costuma dizer que, mercê do comportamento firme do Copom, o mercado convive com a certeza de que o BC zelará para que a inflação se mantenha sob controle. E isso, diz ele, não pode mudar.
O presidente do BC reage com desdém à afirmação, encontradiça no governo e fora dele, de que o Brasil poderia conviver com uma inflação “um pouquinho mais alta.”
É “bobagem”, diz Meirelles, em diálogos reservados. Contra-argumenta que a inflação dentro da meta leva a economia do país a crescer no exato limite do seu potencial.
Deve-se o recrudescimento da inflação, em parte, à elevação da demanda acima da capacidade da indústria de atender aos desejos de consumo dos brasileiros, tonificados pela proliferação do crédito.
Na opinião de Meirelles, esse ambiente não comporta “mágicas”. Resta ao BC lançar mão da carta mais vistosa que carrega na manga: a alta da taxa de juros.
Consolidara-se a impressão de que a inflação vinha subindo no Brasil por conta da alta nos preços dos alimentos. Nas últimas semanas, Meirelles passou a dizer, primeiro reservadamente e depois em público, que não é só isso. Segundo ele, a carestia estende-se a outros produtos, alcançando inclusive matérias primas da indústria.
O provável “ciclo” de elevação dos juros se refletirá no desempenho do PIB. É improvável que se repita em 2008 a taxa de 2007: 5,4%. O governo não trabalha, porém, com a perspectiva de recuos dramáticos.
Um auxiliar de Lula disse ao repórter que, no Planalto, convive-se com a expectativa de que a economia cresça entre 4% e 4,5% neste ano. Preço que Lula consideraria módico se for alcançado o objetivo de entrar 2009 com inflação definitivamente cadente.
Há, de resto, um argumento que, esgrimido internamente por Meirelles, soa bem aos ouvidos de Lula. A preservação dos rigores da política monetária seria indispensável para que a economia conserve-se nos trilhos até 2010, ano da sucessão presidencial.