Violência sobrecarrega hospitais 15/06/2008
- Ligio Formenti - O Estado de S.Paulo
Levantamento inédito do Ministério da Saúde mostra o quanto a calçada irregular, o tempo inadequado do sinal de trânsito e a falta de segurança ajudam a superlotar serviços de urgência e emergência dos hospitais.
O trabalho revela que 20% dos pacientes atendidos nas unidades analisadas no País foram vítimas de violência, incluindo acidentes.
¨É um número alto. E o mais triste é que a maioria dos casos poderia ter sido evitada¨, afirma a coordenadora da área técnica de Vigilância, Prevenção e Controle de Acidentes e Violências do Ministério da Saúde, Marta Maria Alves da Silva.
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A análise é a primeira a ser realizada na rede Vigilância de Violências e Acidentes, sistema de informação criado pelo ministério em 2006. Ela reúne dados de atendimento em 84 serviços de 37 cidades, todas prioritárias por causa do grande número de pacientes vítimas de agressões ou acidentes.
A intenção do trabalho é trazer à tona o impacto da violência nos serviços de saúde e nortear políticas públicas que respondam a essa questão. ¨Muitos dos estudos baseiam-se em dados de mortalidade. Mas há um número expressivo de casos que chegam aos hospitais, são tratados e acabam passando despercebidos. É a violência silenciosa¨, diz Marta.
QUEDAS
O trabalho mostra que, dos atendimentos por causas externas, a grande maioria (90%) foi provocada por acidentes. E, entre acidentes, os mais freqüentes foram as quedas, com 35,7% dos registros. Em segundo lugar, acidentes com transporte (26,5%).
¨São números que ajudam a mostrar a importância de se rever políticas de trânsito ou medidas simples, como alterar o tempo do sinal para que uma pessoa idosa possa atravessar a rua com mais tranqüilidade¨, completa a coordenadora.
O interesse do ministério neste tipo de levantamento se explica. A violência - seja no trânsito, seja interpessoal - passou a ser considerada problema de saúde. ¨Como qualquer outro problema nesta área, precisa ser diagnosticado precocemente e tratado de forma adequada¨, defendeu Marta.
Para ela, o nível de cuidado que o médico deve ter com uma criança que chega com meningite (processo inflamatório das membranas que envolvem o cérebro), por exemplo, deve ser o mesmo com aquelas que chegam com sinais de terem sido vítimas de violência. ¨Os dois problemas podem matar. Dar alta a uma criança com suspeita de maus-tratos é tão grave quanto liberar uma criança com sinais de doenças infecciosas¨, completa.
Nem todos os profissionais têm esse cuidado, reconhece a coordenadora. ¨Por isso, está em estudo a alteração do currículo da graduação de Medicina. Profissionais precisam saber como lidar com a violência. Violência não é só caso de polícia. É também de saúde.¨