Depoimento de Maggi e Cassol virou palanque contra governo 20/06/2008
- Eugêmia Lopes - Agência Estado
O depoimento de ontem na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável dos governadores de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e de Rondônia, Ivo Cassol (PPS), transformou-se em um palanque para críticas à política federal de preservação ambiental. Em uma audiência que contou com a presença apenas de parlamentares ligados à produção rural, os dois governadores negaram o crescimento do desmatamento em seus Estados e reclamaram da proposta do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de apreender gado em propriedades ilegais na Amazônia, o chamado ¨boi pirata¨.
¨Certamente teremos a elevação dos preços agropecuários com essa medida¨, ameaçou Maggi. ¨A carne, o arroz que hoje são caros vão ficar mais caros¨, disse Cassol. Na audiência, Maggi tentou rebater os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que apontam o desmatamento no Estado. Ele exibiu transparências que mostram que, entre 2003 e 2007, houve ¨uma diminuição de 80% em área desmatada¨ em Mato Grosso. ¨Mato Grosso não tem acelerado o desmatamento¨, garantiu o governador, que é um dos maiores produtores de soja do Brasil.
Tanto Maggi quanto Cassol condenaram a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) de proibir crédito para agricultores que promoveram desmatamento. A medida entra em vigor no mês de julho.
PUBLICIDADE
¨Tirar crédito dos proprietários é asfixiar a economia privada¨, disse Maggi. Cassol aproveitou para criticar a política de assentamento do atual governo. ¨Se querem coibir o desmatamento, o governo tem de parar de assentar sem terra na região amazônica e parar de dar bolsa família¨, disse Ivo Cassol, ao afirmar que o Incra ¨tem estimulado¨ invasões de terra em seu Estado.
Afinados nas críticas ao governo federal, os dois governadores divergiram, no entanto, sobre as fontes de financiamento para ações de preservação ambiental. Cassol defendeu a criação de um imposto específico para ¨indenizar e compensar os pequenos proprietários para que eles possam ser os guardiães da floresta¨. Seria uma contribuição, semelhante à Contribuição Social para Saúde (CSS), que está em votação na Câmara. ¨Hoje todo mundo grita, mas ninguém nos ajuda¨, disse Cassol. Blairo Maggi é contrário à criação da nova contribuição. ¨Acho que os recursos devem vir da comunidade internacional. O mundo deve pagar pela preservação¨, disse o governador de Mato Grosso.
Cassol e Maggi aproveitaram ainda para reclamar da atuação da Polícia Federal em seus Estados na defesa do meio ambiente, em especial a operação ¨Arco de Fogo¨, de combate ao desmatamento na Amazônia. ¨A PF se excedeu algumas vezes¨, afirmou Maggi. ¨Gastam R$ 186 milhões para pagar diárias e dar mordomias para o pessoal que faz essa operação. Deviam é por esse pessoal para coibir a entrada de drogas e armas na fronteira¨, defendeu Cassol.
Durante o depoimento, o deputado Sarney Filho (PV-MA) foi o único que tentou pôr os dois governadores contra a parede e cobrou ações mais firmes contra o desmatamento. Os demais presentes ficaram elogiando a ação dos dois governadores, ao mesmo tempo em que criticavam a atuação da ex-ministra Marina Silva (PT-AC). Os deputados Valdir Colatto (PMDB-SC) e Wellington Fagundes (PR-MT) aproveitaram a audiência para reclamar com Ivo Cassol da invasão de suas terras em Rondônia por integrantes do Movimento dos Sem Terra.