Resgate de reféns fortalece Uribe e enfraquece Chávez, diz analista 03/07/2008
- Bruno Garcez - BBC
O resgate de 15 reféns pelo Exército colombiano, entre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, deverá fortalecer o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e marginalizar o presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmam analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Segundo o vice-presidente do instituto de pequisas Inter American Dialogue e diretor do programa andino do órgão, Michael Shifter, a ação militar da Colômbia ¨certamente irá marginalizar Hugo Chávez, que dizia ser o mais capaz de libertar reféns, por conta de contar com mais legimitidade aos olhos das Farc (o grupo rebelde Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que mantinha os reféns em cativeiro)¨.
Chávez passou a atuar como mediador entre o governo colombiano e as Farc em agosto de 2007.
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Em novembro do ano passado, Uribe anunciou o fim da mediação do presidente venezuelano, alegando que ele havia desrespeitado um acordo entre os dois, segundo o qual não poderia se comunicar diretamente com o alto comando militar colombiano.
O episódio provocou uma crise diplomática entre a Venezuela e a Colômbia. Em janeiro deste ano, as Farc libertaram a ex-candidata à vice-presidência da Colômbia Clara Rojas e a ex-deputada Consuelo Gonzalez.
A libertação foi obtida após Uribe permitir o retorno de Chávez às negociações.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, também vinha desde sua posse, em maio de 2007, fazendo pressão pela libertação dos reféns, já que Ingrid Betancourt tem cidadania francesa.
¨Agora, o governo colombiano obteve esta vitória sem o apoio dos europeus e sem a participação de Chávez. Isso fortalece o papel deles e enfraquece o papel de Chávez como agente de paz¨, afirma Shifter.
¨Estado precário¨
Para Adam Isacson, diretor do Projeto Colômbia do instituto de pesquisas Center for International Policy, o resgate mostra que as Farc estão ¨em um estado tão precário que nem conseguem dar conta de seus reféns¨.
Na opinião do analista, a ação de resgate reforça o suposto viés militarista adotado por Uribe em detrimento à saída diplomática.
¨É uma gigantesca vitória para ele e uma derrota para aqueles que eram contra a opção de pôr fim ao problema à base de tiros¨, afirma.
¨Uribe mostrou que o lado humanitário, o bem-estar de reféns, também é uma de suas preocupações. Ele já conta com uma popularidade (entre os colombianos) na faixa de 84%, isso deverá ampliá-la ainda mais¨, diz Shifter.
Ele acredita que com a perda de seus mais destacados reféns e, por conseguinte, suas principais fichas para possíveis barganhas políticas, as Farc tenderão a se fragmentar.
¨Não significa que todas as frentes das Farc irão desaparecer, mas a habilidade deles em atuar como um Exército nacional se perdeu. Eles deverão se dividir em grupos menores e alguns deles deverão inclusive buscar alguma forma de entendimento com o governo.¨
Estados Unidos
Apesar de julgar que a vitória política de Uribe deverá aproximar ainda mais a Colômbia dos Estados Unidos, Shifter acredita que o país sul-americano deverá seguir tendo problemas para firmar o acordo de livre comércio que tenta fechar com os americanos, devido a restrições da maioria democrata no Congresso.
¨Os democratas deverão reconhecer o feito de Uribe, mas seguirão pressionando para que a Colômbia faça mais em defesa dos direitos humanos no país, o que deixará o acordo ainda longe de ser firmado¨, afirma.
O tratado opõe os dois virtuais candidatos à presidência dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama, que é contrário a ele, e o republicano John McCain, que é a favor do acordo.
O fato de o anúncio da libertação dos reféns ter sido feito durante a visita à Colômbia de McCain não deverá servir à campanha do republicano de forma expressiva, na opinião de Shifter.
¨O efeito deve ser bem limitado. O apoio dado a Uribe pode até favorecer a imagem de McCain, mas não creio que os ganhos políticos serão tão grandes.¨