Lugo vai herdar crescimento e desigualdades sociais 13/08/2008
- Alessandra Corrêa - BBC
O Paraguai que Fernando Lugo começa a governar a partir desta sexta-feira é um país com uma economia bem mais sólida do que aquela herdada por seu antecessor na Presidência, Nicanor Duarte Frutos.
Nos últimos cinco anos, a economia paraguaia passou por um período de crescimento contínuo, evoluindo de pouco mais de 1% para quase 7%. A taxa de inflação, que era em torno de 15% em 2002, caiu para 6% em 2007. A dívida externa foi reduzida de aproximadamente 65% do PIB em 2002 para 40% em 2006.
No entanto, apesar da estabilidade macroeconômica, o novo presidente paraguaio vai receber também um país em que os problemas sociais foram acentuados nos últimos anos.
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¨Esse crescimento econômico teve muito pouco efeito sobre investimentos ou geração de emprego e, portanto, sobre a redução da pobreza¨, afirma o analista econômico paraguaio Fernando Masi.
Pobreza
Segundo Masi, apesar do crescimento de 6,7% do PIB em 2007, os índices de pobreza não baixam de 40%. Desses, 20%, ou 1 milhão de pessoas, estão em pobreza extrema.
No início do governo de Duarte Frutos, cerca de 18% da população estava em situação de pobreza extrema, diz Masi.
O analista político Edwin Britez, colunista do jornal ABC Color, diz que nos últimos anos também houve um aumento nos índices de violência.
Britez afirma que famílias inteiras deixaram o Paraguai para fugir dos problemas sociais do país. ¨Nos últimos cinco anos, cerca de 200 mil paraguaios foram morar no exterior, principalmente na Europa. Desses, pouco mais de dez mil em situação legal.¨
O embaixador brasileiro Valter Pecly Moreira, que em outubro completa quatro anos no posto na capital paraguaia, Assunção, também diz que o bom desempenho econômico teve poucos reflexos no campo social.
¨Isso é uma herança que Lugo terá de equacionar, sobretudo porque é a sua promessa principal de campanha¨, afirma o embaixador.
Commodities
De acordo com analistas ouvidos pela BBC Brasil em Assunção, a estabilidade econômica dos últimos anos foi resultado da combinação de algumas reformas implementadas pelo governo de Duarte Frutos, como a tributária e no sistema de aposentadorias públicas, e de uma situação favorável no cenário mundial.
No entanto, esse desempenho não está livre de problemas.
Apesar de uma grande diversificação das exportações nos últimos anos, a economia paraguaia ainda é muito dependente das commodities agrícolas.
As exportações de soja do Paraguai totalizam US$ 1,6 bilhão, quase metade do valor total das exportações, de US$ 3,4 bilhões, diz Masi. ¨Se juntarmos carne e soja, representam quase 60% do total¨, afirma o analista econômico.
¨O crescimento está baseado em dois pilares: as commodities agrícolas, que têm uso intensivo de capital, mas não de mão-de-obra, e o comércio de intermediação, que também foi muito dinâmico nos últimos anos, sobretudo a partir de 2003¨, diz Masi.
¨A dinâmica de crescimento do Paraguai não está baseada no uso intensivo de mão-de-obra. Depende muito do fator externo e, portanto, está exposta à volatilidade do fator externo¨, afirma.
Corrupção
O novo governo deverá enfrentar ainda outros problemas antigos do Paraguai, como corrupção, burocracia e insegurança jurídica, afirmam analistas.
¨Os investidores vêem muito risco, por causa da insegurança jurídica. O Estado de direito não está bem implantado no Paraguai¨, diz Masi.
¨O Estado é um agente econômico importante. E pouco institucionalizado. Não houve muitos avanços na institucionalização do Estado. Ou seja, em uma atitude mais eficiente do Estado e em menores níveis de corrupção.¨
De acordo com Masi, a pressão tributária é muito baixa no Paraguai. Com pouco dinheiro, o Estado não consegue criar condições para investimentos, geração de emprego ou para regular o mercado, diz o analista.