Fundo Amazônia muda paradigma, diz especialista 15/08/2008
- Stuart Grudgings - Reuters
Fundo internacional lançado neste mês pelo Brasil para proteger a Amazônia marca uma mudança de paradigma no desenvolvimento sustentável da floresta, na opinião do especialista Carlos Nobre -- diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ele entende, porém, que os 100 milhões de dólares prometidos inicialmente pela Noruega teriam um impacto apenas marginal sobre a devastação, mesmo que se repita durante 20 anos.
Entretanto, ao criar o precedente de investimentos alternativos, o fundo poderia estimular indústrias sustentáveis, como o da borracha, capaz de ser muito mais lucrativa do que a pecuária e a extração de madeira, atividades hoje dominantes na Amazônia.
¨Esse tipo de dinheiro não vai mudar nada. Entretanto, vejo esses fundos iniciais como sendo elementos importantes na criação de um novo paradigma econômico para a Amazônia. É muito mais importante que [os fundos] sejam usados para desenvolver alternativas, não só na fiscalização das leis¨, afirmou.
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¨Do contrário, será difícil mesmo com grandes aportes de dinheiro proteger a floresta, porque é quase necessário um Estado policial, é quase necessário colocar o Exército em toda a Amazônia. Isso só adia o desmatamento, mas não é uma solução final. O jeito é criar uma nova economia que gere empregos para milhões de pessoas¨.
O novo fundo, criado por decreto presidencial, pretende arrecadar 21 bilhões de dólares ao longo de 13 anos para financiar a conservação e o desenvolvimento. Nobre disse que há mercado potencial para 50 a 100 produtos sustentáveis da Amazônia, embora poucos sejam explorados atualmente.
¨A Amazônia precisa desesperadamente de empreendedores, talvez seja a coisa de que mais precisa, ir lá com boas idéias e traduzir riqueza de biodiversidade em riqueza econômica¨, declarou Nobre.
Após três anos de declínio no desmatamento da Amazônia, é provável que a taxa tenha voltado a subir nos últimos 12 meses, apesar das ações do governo. Muitos especialistas dizem que a inflação global, puxada pela demanda por alimentos, estimula a ocupação e devastação da Amazônia.
EMPRÉSTIMOS VETADOS
Em fevereiro, o governo lançou a operação ¨Arco de Fogo¨, de combate a madeireiras clandestinas, mas especialistas dizem que seu alcance é limitado devido à falta de estrutura para fiscalizar e punir irregularidades.
Nobre disse que o Ibama parece mais empenhado na preservação da Amazônia neste ano, usando com freqüência os satélites do Inpe para localizar áreas a serem fiscalizadas.
Ele também considerou ¨de tremenda importância¨ a nova lei que proíbe empréstimos bancários para quem destruir a floresta ilegalmente.
¨Pode-se até imaginar agora um sistema em que, usando o satélite, você localiza o desmatamento e meses depois essa pessoa, se não conseguir explicar que aquilo é legal, imediatamente vai para uma lista-negra de empréstimos¨, disse.
Nobre é um dos cientistas que mais se destacam nas pesquisas sobre em que momento o desmatamento e a mudança climática atingiriam um ponto em que haverá desertificação espontânea da Amazônia.
No atual ritmo, isso deve acontecer dentro de 50 a 60 anos, segundo ele. Mas essa previsão não leva em conta as diversas políticas nacionais dos países sul-americanos e o aumento da freqüência das queimadas florestais, entre outros fatores.
¨Mesmo que todos os países parem o desmatamento amanhã, [mas] se dentro de cem anos o aquecimento global mudar a temperatura em mais 4-5C -- aí pode esquecer, o ponto de desequilíbrio terá sido atingido¨.