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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Pobres são de classe média? Só no papel
18/08/2008 - Pedro do Coutto

No domingo 10 de agosto, reportagens de Elvira Lobato e Pedro Soares, publicadas na ¨Folha de S. Paulo¨, com base em entrevistas realizadas e nos índices de consumo registrados pelas consultoras Nielsen e MB Associados, expuseram a extrema fragilidade da pesquisa da Fundação Getúlio Vargas que apontou uma extraordinária passagem de grande contingente da população pobre para a classe média.

Os resultados deste mergulho no tempo, encurtando o futuro de 2002 a 2008, foram anunciados aos jornais pelo economista Marcelo Neri, chefe do centro de Estudos Sociais da FGV. Quem dera fossem concretos. Se assim tivesse acontecido, o avanço da favelização no Rio de Janeiro não continuaria na velocidade que os fatos assinalam. Mas não. Os dados projetados triunfal e equivocadamente - comentei neste espaço e há poucos dias - infelizmente só funcionam no papel e como peça de marketing. A exemplo de outras estatísticas brasileiras.

Disse que, se os salários não ganharam da inflação do IBGE ao longo dos últimos seis anos, não havia como comprovar a ascensão destacada por Marcelo Neri. Uma peça de ficção. Nada mais, nada menos. Aceitei o surgimento de 1 milhão e 400 mil empregos com a carteira assinada só neste ano, de janeiro a julho. Mas aconselhei o corpo dirigente da Getúlio Vargas a ler o relatório do FGTS, assinado pelo vice-presidente da Caixa Econômica, Moreira Franco, sobre as demissões efetuadas. As demissões não são iguais a zero. Pelo contrário. Atingem dimensão muito elevadas. Este aspecto da questão, o confronto entre admissões e demissões, é uma pedra de toque.


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Tenho longa experiência em lidar com dados estatísticos. Um deles relativo à alfabetização. Outro quanto à rede pública de creches. Trabalhei no antigo Mobral e na antiga LBA, e desta fui diretor, órgãos que desapareceram da administração brasileira. Por isso, aconselho aos pesquisadores, em particular, e aos interessados eventuais em temas numéricos a lerem o Diário Oficial. Lá os índices não podem ser falsificados ou superdimensionados por lentes especiais.

Há o Tribunal de Contas da União como testemunha. No caso da passagem da pobreza para a classe média, a mágica usada foi a agrupar numa só escala as famílias que recebem mensalmente de 1.064 a 4.591 reais. Deu 52 por cento. Incrível. Dentro de critérios arbitrários, pode-se partir de premissas falsas para alcançar desfechos brilhantes. Sem lógica, que é o oposto da mágica, torna-se factível projetar qualquer ilação. Vejam só os leitores.

Se, por exemplo, como acentuou a FGV, 1 por cento das 56 milhões de famílias brasileiras ganha acima de 16 mil reais, por mês, eu posso sustentar que o mesmo percentual reúne os que recebem entre esses 16 mil a 500 mil. Não estarei forjando nada. Mas a colocação distorce a realidade. Uma fantasia no papel e na tela encantada do computador. Se 30 por cento dos pobres tivessem se libertado da pobreza, as favelas do Rio teriam parado de crescer velozmente. Isso porque ninguém vai morar por desejo em áreas extremamente críticas dominadas pelo terror da bandidagem. Vai morar porque não tem condições de pagar aluguel em lugares melhores.

Elvira Lobato, num belo trabalho, entrevistou pessoas com renda familiar mensal entre 1 mil e 2 mil reais, que se mostraram indignadas por terem sido classificadas como de classe média. Têm razão. Pedro Soares foi buscar informações na Nielsen Consultoria e na MB Associados. A pesquisa mais recente da Nielsen, revelou Patrícia Moraes, técnica da empresa, assinala queda de consumo por parte da população. Sérgio Vale, da MB, afirmou: Neste momento em que a inflação atingiu o preço dos principais produtos, as pessoas tiveram que diminuir o consumo de outros artigos. Isso porque - digo eu - se há um setor no qual não existe milagre, este setor é o que envolve diretamente um valor chamado dinheiro.

O que está sustentando o comércio, isso sim, é o crédito rotativo, cujo montante, anunciado com destaque pelo próprio presidente Lula, ultrapassou a escala de 1 trilhão de reais, talvez o topo do Everest financeiro do País. Vinte e cinco por cento a mais que a massa de salários durante um ano, um terço do PIB. Só que enquanto os vencimentos obtêm um reajuste anual de 6 por cento - exceção do funcionalismo público -, os juros dos bancos e das lojas estão em torno de 50 por cento ao ano.

Num esquema desses, como 30 por cento dos pobres conseguiram livrar-se da pobreza, além do mais em apenas seis anos? Só no papel, na teoria. Mas a teoria, como afirmava o senador Benedito Valadares, na prática é outra coisa. Há pesquisas e pesquisas. Nem todos são iguais. Há também, como escreveu Shakespeare, sonhos em noites de verão.

  

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