Recordes do agronegócio 19/08/2008
- O Estado de S.Paulo
Não há exagero na previsão do Ministério da Agricultura de que, neste ano, o agronegócio obterá um saldo comercial de US$ 62 bilhões, quase 25% maior do que o de 2007, que foi de US$ 49,8 bilhões. Os resultados da balança comercial do agronegócio nos sete primeiros meses do ano são mais do que suficientes para justificá-la. Ao apresentar o desempenho do setor, o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, disse que, em 2008, o agronegócio será o grande responsável pelo superávit da balança comercial do País.
De janeiro a julho, as exportações do agronegócio totalizaram US$ 41,7 bilhões, 30,2% mais do que o total de US$ 32,0 bilhões exportado em igual período de 2007. Por causa da recente queda dos preços dos produtos agrícolas no mercado mundial, o Ministério da Agricultura previu que, daqui até dezembro, o crescimento das exportações será um pouco mais lento, de modo que, na média do ano, deverá ficar entre 26% e 27%, alcançando o valor total de US$ 74 bilhões, ante os US$ 58,4 bilhões de 2007. As importações, que alcançaram US$ 8,6 bilhões em 2007, deverão totalizar US$ 12 bilhões neste ano.
O Brasil vem ganhando espaço no comércio mundial do agronegócio. Em dez anos (entre 1997 e 2007), a fatia dos produtos brasileiros nesse comércio aumentou de 4,9% para 6,9%, de acordo com o estudo Intercâmbio Comercial do Agronegócio, do Ministério da Agricultura. Nesse período, o crescimento médio do setor no Brasil foi de 9,6% ao ano. Nos últimos três anos, o crescimento foi maior - média de 14% ao ano - graças, sobretudo, ao aumento dos preços.
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É surpreendente o desempenho das exportações para a China. Em 1997, os cinco principais importadores do agronegócio brasileiro eram a União Européia, Estados Unidos, Japão, Argentina e China. No ano passado, a China tinha subido para o terceiro lugar. Em 2008, ela já ocupa a segunda posição. Nos sete primeiros meses do ano, as exportações do agronegócio para a China alcançaram US$ 5,5 bilhões, mais do dobro das exportações de US$ 2,7 bilhões registradas de janeiro a julho do ano passado.
Há uma gradual desconcentração dos mercados dos produtos brasileiros. Em 1997, os cinco principais mercados absorviam 71,1% do total exportado; dez anos depois, a porcentagem era de 63,5%. Há um rápido e contínuo crescimento das exportações para os países em desenvolvimento (entre os quais está a China). Em 1997, 39,6% do total exportado pelo Brasil teve como destino os países em desenvolvimento; no ano passado, a participação desses países nas exportações do agronegócio brasileiro tinha subido para 48,2%.
Um dado que deveria merecer atenção das autoridades da área agrícola e do comércio externo é a notável perda de importância do mercado norte-americano. Dos grandes mercados de produtos do agronegócio brasileiro, é o único que está encolhendo. Nos sete primeiros meses do ano passado, o Brasil exportou para os EUA US$ 3,8 bilhões em produtos do agronegócio; de janeiro a julho deste ano, as exportações ficaram em US$ 3,6 bilhões, 5% menos.
Apesar de terem, de maneira indisputada, a maior economia do mundo, os EUA ocupam hoje apenas a terceira posição entre os países que mais importam produtos do agronegócio brasileiro, atrás da China e dos Países Baixos.
O Brasil vem conquistando novos mercados - as exportações para o Irã cresceram à média anual de 20% entre 1997 e 2007, e, de 2002 para cá, o crescimento foi de 28,8% ao ano; a Venezuela saltou da 12ª posição, em 2006, para o 9º lugar. Mas nem por isso pode dar menor atenção aos mercados em que sua presença já é forte.
Porto não acredita que os preços agrícolas continuem a cair, mesmo com o aumento da produção. No seu entender, os custos de produção subiram muito por causa da alta dos preços do petróleo e dos fertilizantes, razão pela qual não há espaço para novas quedas acentuadas dos produtos agrícolas, como as registradas nas últimas semanas.
Resta verificar se o mercado estará de acordo com essas previsões.