Lula faz da 1ª extração do pré-sal um ato político 02/09/2008
- Blog de Josias de Souza - Folha Online
Com a presença do presidente, Petrobras abre a produção. Cerimônia lembra Getúlio e ocorre num navio chamado JK. Será na costa Sul do Espírito Santo, no campo de ¨Jubarte¨
A viabilidade comercial da nova fronteira petrolífera do Brasil é algo que só será definitivamente demonstrado num intervalo superior a uma década.
Antes que venha o petróleo, porém, Lula move-se para extrair do “bilhete premiado” do pré-sal o único dividendo que está ao alcance das mãos: o lucro político.
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Decidido a descer ao verbete da enciclopédia como um neo-Getúlio, o presidente participa nesta terça (2) de uma pajelança organizada pela Petrobras.
Será no litoral Sul do Espírito Santo, a bordo de um navio-plataforma batizado de JK, as iniciais do presidente Jucelino Kubistchek, quase um sinônimo de desenvolvimento.
Sob os olhares de Lula e de uma comitiva de ministros, vai-se extrair a primeira porção de óleo das profundezas do pré-sal.
Será, na prática, o ato inaugural de um procedimento que a própria Petrobras chama de TLD (Teste de Longa Duração). A duração prevista é de seis meses a um ano.
O litoral capixaba não foi escolhido a esmo. A plataforma de Jubarte, de onde sairá o óleo que Lula tenta revestir com o verniz da história, já produz petróleo. Desde 2006.
De resto, de toda a faixa do pré-sal –- que se estende por 800 km, de Santa Catarina ao Espírito Santo -— é ali que a exploração apresenta características menos inóspitas.
O grosso do petróleo e do gás do pré-sal encontra-se a 7.000 metros de profundidade e a 300 km do litoral.
Há um outro facilitador: a camada de sal a ser vencida pelas sondas, quilométrica em outros poços, é bem mais fina em Jubarte: coisa de 100 metros.
Foi graças a essas vantagens comparativas que a Petrobras pôde prover a Lula a solenidade desta terça. Uma prévia do que vai ocorrer em março de 2009.
Dentro de sete meses, em festa ainda mais grandiloquente, Lula testemunhará o início da exploração do campo de Tupi. É a jóia do pré-sal.
Concentra algo como 50 bilhões dos cerca de 80 bilhões de barris de óleo que se estima estejam armazenados no fundo do oceano.
Também ali o pontapé inaugural virá na forma de um “Teste de Longa Duração”. Será, aí sim, um teste crucial. O início de uma jornada apimentada por dois ingredientes:
1. Os riscos e incertezas próprias da atividade petrolífera;
2. A necessidade de prover dose cavalar de investimentos. Algo entre U$ 500 bilhões e US$ 600 bilhões só para os seis campos já licitados pela Petrobras.
Alheio aos desafios econômicos, Lula planeja utilizar o tradicional pronunciamente do dia 7 de Setembro, transmitido em cadeia de rádio e TV, para propagandear o pré-sal.
Esgrime uma tese lúcida: o uso dos lucros do petróleo em investimentos sociais. Que só irá viabilizar-se, contudo, se a promessa petrolífera vier a se coverter em realidade.
Também na cerimônia desta terça, Lula, como sói, subirá no caixote. Programou-se para depois do ritual marítimo, uma cerimônia em terra firme.
Será num espaço alugado à firma Cerimonial Le Buffet, no bairro Jardim Camburi, em Vitória.