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Curto&Grosso O que ainda será manchete

O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Atenção à nova safra
29/09/2008 - O Estado de S.Paulo

É tempo de plantar a safra de verão, a mais importante de cada ano, mas o crédito agrícola está saindo mais lentamente do que no ano passado. A notícia é um sinal de alerta para o governo. Uma boa produção será necessária tanto para conter o custo de vida, no próximo ano, quanto para sustentar o comércio exterior num ambiente de crise internacional. A exportação do agronegócio continua sendo a principal fonte de dólares para o Brasil e um importante fator de crescimento econômico. O total de recursos deveria ser 12% maior que o da temporada 2007-2008, segundo o plano de financiamento anunciado em julho: R$ 55 bilhões para custeio e comercialização da agricultura comercial, R$ 13 bilhões para a produção familiar e R$ 10 bilhões para investimentos. O valor liberado até agora, no entanto, está um pouco abaixo do total emprestado no mesmo período de um ano atrás, disse o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.

Os bancos emprestaram R$ 7,88 bilhões para custeio e comercialização, entre julho e agosto, 3,3% menos que em igual bimestre de 2007. No ano passado, foram emprestados nos dois primeiros meses da temporada 16,6% do total programado para o ano-safra. Neste ano, saíram apenas 14,3%.

O ritmo não parece ter mudado muito nas últimas semanas, em vista das queixas dos agricultores. O ministro Stephanes mencionou o descontentamento dos produtores do Nordeste e do Centro-Oeste. Em Mato Grosso, produtores de soja denunciam redução do crédito oferecido pelos bancos. A escassez de dinheiro tem afetado a compra de fertilizantes e isso pode resultar em produtividade menor que a da última safra.


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Com a retração dos bancos privados, parte da procura de financiamentos tem sido desviada para o Banco do Brasil (BB), segundo o diretor de Agronegócios da instituição, José Carlos Vaz. Até agora, segundo ele, o BB tem conseguido atender à demanda. Desde julho até 24 de setembro, informou, foram liberados R$ 4,15 bilhões para o custeio da agricultura empresarial. No ano passado, no mesmo período, tinham saído R$ 2,243 bilhões. Para a agricultura familiar o BB liberou neste ano R$ 1,05 bilhão, pouco mais que no ano passado, R$ 1,03 bilhão.

Dirigentes do BB destacam três fatores para explicar a piora das condições de crédito na maior parte do sistema. Com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), ficou mais barato, para o correntista, sacar dinheiro do depósito à vista para outros tipos de aplicação. No BB, os depósitos à vista diminuíram de R$ 51,3 bilhões em dezembro para R$ 44,1 bilhões em junho. Movimento semelhante ocorreu noutras instituições. Os bancos são obrigados a destinar ao crédito rural 25% dos depósitos à vista. Se estes encolhem, a aplicação obrigatória também se reduz.

O segundo fator é a nova renegociação das dívidas agrícolas. Enquanto não se conclui o processo, não se pode conceder novo financiamento. O terceiro fator é a renegociação já concluída: parte do dinheiro não retorna ao banco e isso afeta o volume disponível de recursos.

A situação pode tornar-se mais complicada se o Congresso derrubar o veto presidencial a um item da lei de renegociação recém-aprovada. Os congressistas haviam mudado o texto proposto pelo governo e substituíram, nas condições de refinanciamento, a taxa Selic pela TJLP (um corte de 13,75% para 6,25%). O Executivo, atendendo a uma recomendação do Ministério da Fazenda, vetou esse dispositivo. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Valdir Collato, ameaça mobilizar parlamentares para restabelecer o dispositivo vetado. Se o fizer, tornará muito mais complicado o financiamento da safra 2008-2009. O prejuízo para a economia será considerável e os produtores estarão entre os mais afetados.

Não é hora de cuidar de clientelismo, mas de garantir condições favoráveis à obtenção de mais um recorde na produção de cereais, leguminosas e fibras. A boa produção deste ano garantiu segurança no abastecimento, poupando o consumidor brasileiro dos piores efeitos da alta de preços no mercado internacional. Proporcionou até agosto exportações do agronegócio no valor de US$ 48,5 bilhões. A renda dos produtores aumentou, seu consumo cresceu e seu bom desempenho econômico os encorajou a comprar mais máquinas e equipamentos para produzir mais e com maior eficiência. É preciso não perder esse impulso.

  

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