Abrem espaço para indagações diretas entre os contestantes, mas engessam as respostas restringindo temporalmente a exposição dos argumentos.
Em nada se parecem com seu ancestral medieval, a desputatio.
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Havia dois tipos de disputatios: a comum (ou ordinária) na qual a questão discutida era anunciada de antemão; e a quodlibetal, na qual os alunos faziam perguntas ao professor - sem que este tivesse conhecimento prévio das questões - e ele deveria respondê-las de pronto, fundamentando seus pontos de vista.
Este era, aliás, o método em torno do qual a pedagogia escolástica girava. Ao contrário, os debates hoje são muito mais relevantes pelo estrago que podem causar à imagem pública dos candidatos.
Nenhum tema é melhor explicado ou aprofundado. Os elementos cosméticos imperam sobre as questões substantivas.
(...)
O conceito de ethos pode ser definido como uma categoria da análise do discurso político.
Na retórica clássica o ethos se referia ao modo como a figura do orador aparecia ao auditório durante o pronunciamento do discurso.
Aristóteles é a referência.
Persuade-se pelo caráter (ethos) quando o discurso tem uma natureza que confere ao orador a condição de digno de fé; pois as pessoas honestas nos inspiram uma grande e pronta confiança sobre as questões em geral, e inteira confiança sobre as questões que não comportam de nenhum modo certeza, deixando lugar à dúvida.
Mas é preciso que essa confiança seja efeito do discurso, não uma previsão sobre o caráter do orador.
Um pouco mais adiante, na Retórica, Aristóteles enumera as três qualidades fundamentais que um orador deve ser capaz de, pelo discurso, atribuir a si mesmo ou subtrair ao seu oponente.
Quanto ao oradores, eles inspiram confiança por três razões; as que efetivamente, à parte as demonstrações, determinam nossa crença: a prudência (phronesis), a virtude (aretè) e a benevolência (eunoia).
A qualidade de um debatedor ou orador está em ser capaz de associar o assunto discutido a cada um destes traços de caráter, de modo a aparecer, perante o auditório, portando sempre o ethos apropriado.
Falar sobre inimigos ameaçadores com muita flêuma pode parecer imprudente, assim como condenar sumariamente inimigos fracos pode parecer falta de benevolência.
Como Aristóteles gostava de dizer, o difícil é encontrar o eqüilíbrio certo em relação aos meios e fins.
A política midiatizada da atualidade ampliou os tipos de ethos disponíveis para os oradores.
Mostrar-se enérgico é tão importante quanto mostrar-se benevolente. Parecer indignado é tão poderoso quanto parecer prudente. Os topoi se multiplicaram. O que não mudou foi a lei da adequação.
(...)
Exatamente porque a construção do ethos é um elemento discursivo, sua eficácia encontra-se na percepção do auditório.
Assim como a ironia, o ethos funciona quando compreendido.
Como o auditório em questão é todo o universo votante sintonizado através da TV, rádio ou Net; seu impacto será medido em alguns dias, quando puder ser incluído no resultado das pesquisas.
Na verdade não importa o que dirão os partidários de cada candidatura.
Acontecerá, no máximo, um debate moral; uma guerrinha discursiva para se determinar quem foi o melhor.